Foram 3 dias de luto, decretados pelo governador Marconi Perillo, para que Goiás assimilasse a tragédia da última semana. A queda do avião da polícia civil abriu uma brecha na sociedade goiana, não só entre os que estavam próximos dos policiais mortos.

 A história desses homens, especialmente dos delegados mais experientes, fez com que os goianos os respeitassem. Pelos jornais, acompanhamos o brilhantismo de investigações acertadas que repercutiram no país inteiro e que levavam a assinatura dos delegados Antônio Gonçalves, Jorge Moreira, Osvalmir Carrasco. Assassinos e criminosos puderam ser julgados e quitar sua dívida com a sociedade graças ao apurado trabalho desses homens valorosos.

 Fora a dor, as homenagens rendidas pelos colegas, pela imprensa, por todos que conheciam o trabalho desses homens significaram um momento emocionante, solene e também de muita beleza. É muito bonito ver que ainda hoje, quando afloram denúncias de corrupção, de desonestidade, há homens que dignificam sua profissão e merecem ser lembrados com honra e apreço.

 É claro que a perda dos 7 policiais significa um golpe muito grande para a categoria, mas o acontecido lamentável pode servir para a reflexão de todos nós e para a valorização daqueles que ficaram.

 Pelo que se viu, pela comoção que se instaurou entre os colegas dos mortos, é possível abstrair que o exemplo deles era um modelo. Certamente os experientes policiais, aclamados como honestos e íntegros fizeram escola e a divulgação maciça, a repetição de suas biografias, chamaram a atenção dos goianos para a necessidade de valorizar os bons policiais e seu trabalho.

 É legítimo que todo trabalhador lute por melhorias salariais, mas há tempos que os policiais lutam por questões ainda mais básicas e ainda mais legítimas. A maior parte dos apelos da categoria é pelas condições de continuar exercendo o trabalho. Os problemas são muitos, os recursos para resolve-los nem sempre estão ao alcance do governo estadual e os profissionais são o fiel da balança na sustento da situação.

 Os delegados, por exemplo, são profissionais de quem se exige cada vez mais conhecimento e o cargo é de regime de exclusividade. Os que trabalham no interior, muitas vezes comandam mais que uma delegacia e além do trabalho de investigação e de enfrentamento dos criminosos,  precisam também encarar a estrada, deslocarem-se por quilômetros para atender às comunidades a que servem.

 E nem sempre a comunidade consegue entender que esse pode ser o motivo para ausências prolongadas dos delegados em determinadas localidades. A falha, é claro, não é do cidadão que tem sua necessidade de segurança, mas do sistema que ainda não acompanhou o ritmo do desenvolvimento do interior e nem do crescimento da marginalidade fora dos grandes centros.  Cabe então também ao delegado ser o porta-voz do Estado no prestar tais explicações da defasagem de mão de obra nas delegacias.

 Além de se desdobrar ocupando várias lacunas, o policial ainda precisa lidar com a falta de estrutura. Não só a falta de insumos, a precariedade dos prédios, mas também a superlotação das celas, as cadeias que viraram depósito de gente e que fazem dessa profissão que já é de risco, extremamente mais perigosa. Uma doença crônica que certamente não pode ser resolvido por um governo apenas, ou por um ente isolado da administração pública, mas cujo o tratamento depende de um planejamento a longo prazo e da colaboração de políticas públicas.  As demandas sociais são realmente muito fortes e edificar melhorias para o cidadão que trabalha é muito mais urgente que criar alojamentos para criminosos, acontece que essa lógica sacrifica uma horda de servidores, pessoas que tem suportado um peso muito grande para sua função.

 A despeito de todas as dificuldades da missão a que se dispõe, o policial vive ladeado pela tentação. Acontecimentos recentes mostram que os criminosos percebem a fragilidade e o suborno e a propina são iscas não raras para desviar do bom caminho os que esmorecem.

 Espero que esse momento de exposição dos policiais sirva para que a instituição seja amparada pelos cidadãos que entendem que não se pode abrir mão de uma segurança de ponta.

 Felizmente, tenho observado no governo de Goiás que a segurança é uma das prioridades. Já houve uma sinalização para a construção de celas para a abertura de novas vagas para presos, já se falou em abertura de contratos e percebo uma grande sensibilidade para que a categoria seja atendida em seus apelos.  Os nomes escolhidos para a direção da instituição são um exemplo de cuidado do governo. A delegada geral Adriana Accorsi, primeira mulher a ocupar o posto, demonstrou nesses dias um espírito forte, ao mesmo tempo terno e lúcido, exatamente o necessário para enfrentar a turbulência.

 Torço para que  a morte emblemática desses 7 policiais que se foram exercendo seu dever sirva para que a categoria se fortaleça e se una ainda mais em prol desses objetivos. A polícia goiana é bem vista em todo o país pelo resultado de ações inteligentes, que essa mesma inteligência seja agora a ferramenta para uma renovação e para a construção de novos sonhos, nova história e para o florescer de nomes que se assemelhem aos talentos que partiram.

 Aos honestos e batalhadores policiais, minha solidariedade e apreço.

 César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

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