Não é discurso vazio o que trata da importância do contraditório na democracia. Sem oposição, um governo pode se perder num mar de facilidades. Sem os contrários, a fiscalização certamente inexiste e o debate não se efetiva. Sem debate, não há escolha acertada porque não há alternativas. Sem a oposição, nenhum governo se esmera, nem se policia.

 Ser oposição não é o encargo dos derrotados, como muitas vezes se proclama no Brasil. Os da situação comportam-se muitas vezes com dedo em riste junto á boca, ordenando que opositores se calem, como se, por estarem fora da composição do executivo, não tenham o direito de exercer o mandato para o que foram eleitos. E o pior, muitos da oposição sentem-se exatamente assim e se calam. Conformam-se, ou aderem ao projeto situacionista ou ainda vilanizam-se, exercendo uma oposição de barulho, nada propositiva, do tipo caricatural que torna alvo toda iniciativa do “adversário”.

 Por esses caminhos, a oposição ao governo federal tem se desviado e sumido do mapa. Erra ao desperdiçar a chance de revelar-se à nação e exibir um projeto consistente de desenvolvimento. Erra ao dividir-se em intrigas rasteiras e guerrinhas internas sem compreender que o “ser oposição” também é uma oportunidade de servir ao país.

 Personificada principalmente pelo PSDB, a oposição sofre de uma baixa auto-estima incompreensível. Os tucanos foram capazes de se esconderem de um passado que deveria ser motivo de orgulho e mérito. O partido que esteve á frente da retomada do progresso brasileiro, assovia cabisbaixo tentando não ser percebido como a sigla de um dos maiores presidentes que a república já teve. Os tucanos parecem ter vergonha de Fernando Henrique Cardoso e demonstram a imaturidade do adolescente que se envergonha do pai que lhes deu recursos para crescerem na vida.

 Para merecer respeito da situação, o PSDB precisa rever sua auto-imagem e perceber, um a um, os feitos de FHC e do governo tucano que fortaleceu o Real. Se hoje temos uma moeda forte e uma política econômica que tem assegurado o país em tempos de crise, é preciso lembrar que os fundamentos foram colocados por Fernando Henrique. Lula e Dilma reconhecem isso, os tucanos não.

 As páginas da história que registram o controle da inflação e o início de desenvolvimento do nosso mercado têm a assinatura de FHC. Foi só depois do tucano que as populações mais pobres começaram a ter acesso a bens de consumo. Lembra do aumento do poder de compra? Do brasileiro comprando mais carne e frango? Então, tudo plantado por FHC. Como a legenda do ex-presidente pode insistir em escondê-lo de sua história.

 Se a vergonha for por causa das privatizações, a demonstração é de falta de conhecimento dos argumentos mais lógicos para justificar a venda de empresas estatais. O desenvolvimento estaria estagnado até hoje se não houvesse a privatização em diversas áreas. Se o brasileiro tem acesso à telecomunicação como tem hoje, foi porque o sistema passou pela privatização. Se houve erros, foram ínfimos perto dos acertos. Ninguém do governo de Lula e Dilma poderia recriminar a atitude do tucano em liderar privatizações porque o modelo sustentou o avanço que norteia o país agora.

 Se falta ter orgulho do passado, falta também planejar o futuro. O PSDB erra por não fomentar com urgência o florescimento de líderes com condições de disputar o voto do brasileiro. Falta liderança com coragem suficiente para chamar para si a responsabilidade de se opor ao atual governo. Falta à legenda líderes que se posicionem de acordo com um projeto social democrata inteligente. Essa lacuna não enfraquece apenas os tucanos, mas a todos os outros partidos que não compõem o governo.

 A situação está crítica, tanto que é cada vez mais difícil encontrar um nome para disputar a presidência fora do PT e das legendas aliadas. Na verdade, uma característica muito forte com a qual podem concordar comigo os analistas e estudiosos é de que, não importa o partido, os nomes mais fortes são aqueles que aderiram ao Lulismo, um estilo suprapartidário, que não se limita ao PT, mas que valoriza as práticas do presidente mais carismático que o Brasil já teve. O PSDB precisa reconhecer essa tendência e se preparar pra ela.

 Um exemplo claro de lulista fora do PT é o do governador Eduardo Campos do Pernambuco. Campos que é do PSB trabalha seguindo as mesmas linhas que Lula, prezando pela distribuição de renda, combatendo a desigualdade, promovendo oportunidades aos mais carentes. Sua vantagem é estar no nordeste, onde há densidade eleitoral e, dada a perplexidade que toma conta dos opositores ao governo, pode ser um nome que se destaque para o próximo pleito nacional.

 Nosso governador Marconi Perillo também reúne qualidades assim, alguém poderia me lembrar. É verdade. Marconi, político hábil e muito a frente de sua geração tem sensibilidade para identificar as necessidades do povo e ao longo de seus governos construiu um estilo muito próximo ao de Lula: conta com o carisma inquestionável e adota ações contundentes na promoção do desenvolvimento social dos goianos. Seria um nome para disputar à presidência? Claro! A despeito de estar num estado com pouca representação eleitoral, sem muitos recursos de projeção, o trabalho que o governador desempenhará, reestruturando o estado e devolvendo a Goiás as condições estruturais para recuperar o tempo perdido, pode servir como propulsor de seu nome ao conhecimento e apreço dos demais brasileiros.

 O fato, é que a oposição precisa renascer, precisa reencontrar-se, porque sem ela a democracia perde um pouco do seu valor.

 César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

Deixe seu Comentário

All fields marked with an asterisk (*) are required