“Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi. Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, e no meio dos anos faze-a conhecida; na ira lembra-te da misericórdia.” (Habacuque 3:2)

O mundo cristão tem se perdido em discussões tolas. Infindáveis teses acerca de divagações teológicas que em nada contribuirão para a salvação do homem. Debates vazios que não deixam herdeiros nem promovem mudanças substanciais. Uma salvação pela graça luterana. Uma predestinação calvinista. Uma eleição discutível arminiana. Precisamos de assuntos assim para debater.

Da última vez que tivemos uma grande discussão decisivamente contundente foi quando grandes pregadores desencadearam avivamentos espirituais realmente férteis nos confins da Europa. Eis um grande momento. Suas conseqüências podem ser vistas até hoje, para o bem ou para o mal. E, enquanto não nos surge outro “divisor de águas
doutrinário”, nos cabe, como bereanos por convicção que somos, lançar um olhar bíblico sobre o assunto, visto que ainda o é bastante atual.

Um detalhe que nos chama a atenção para os pregadores excessivamente (diria até obsessivamente) avivalistas da atualidade ,é que eles lançam mão insistentemente da frase “Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, e no meio dos anos faze-a conhecida”, e esquecem que o versículo tem mais coisa. E a primeira é: “Ouvi, ó Senhor, a tua palavra, e temi.” Avivamento é necessariamente precedido da Palavra de Deus. O profeta Habacuque sabia disso. Ela deverá guiar o rumo das coisas. Será a palavra final em qualquer questão e, jamais poderá ser manipulada para se adaptar àquilo que os homens entendem ser o certo. Quer concordemos com ela ou não. E é melhor concordar.

O Dicionário Aurélio da língua portuguesa defina “avivar” de uma forma muito simples: “Tornar mais vivo”. É um conceito óbvio, mas extremamente revelador em sua etimologia. Aviva-se o que está vivo, não o que está morto. O que está morto ressuscita-se. Quando alguém contrata um pintor para avivar o azul da parede da cozinha, não está dizendo para ele pintar de vermelho ou mesmo derrubar a parede e erguer outra em seu lugar. Apenas quer que ele faça com que o azul que está lá volte a ficar como era quando foi pintado da primeira vez. Quando Jesus disse “Lembra-te de onde caíste! Arrepende-te e pratica as primeiras obras. (…)” (Apocalipse 2:5a), ele, em outras palavras, está dizendo: “Avivem-se”.
Quando Habacuque clama a Deus para que avive a sua obra ele expõe duas realidades incontestáveis:

1. É Deus quem trás o avivamento, e não o homem.
2. Ele não estava pedindo uma nova religião em detrimento ao judaísmo.

Esta atitude revela o mistério perdido nas cercanias dos séculos XX e XXI, onde pregadores mortais são contratados a peso de ouro para levar “avivamento” para dentro de igrejas “frias” e “mortas” e em outros casos, em nome desse pretenso avivamento, propagaram-se não centenas, mas milhares de denominações evangélicas ao redor do mundo, que, partiram de um suposto ponto de vista semelhante, mas que não possuem sequer um traço em comum em seu discurso doutrinário, exceto, é claro, que são “avivadas”.

As igrejas tradicionais por questões históricas têm rejeitado, mais por medo do que por convicção doutrinária, o rótulo de igreja avivada. Em seu inconsciente coletivo consideram o termo pejorativo. Obviamente ninguém vai explanar isso em um púlpito. Muitos têm optado pela igreja “renovada”. Será?

“Renovar” é “tornar novo”. Básico, não? Nem tanto. Um empresário pode renovar os quadros de sua empresa demitindo metade dos funcionários. Tornar novo não quer dizer necessariamente repetir o que foi feito. O conceito é extremamente mais amplo. E pode trazer confusões. Querem ver? Peça para o membro de uma igreja outrora tradicional ou fundamentalista lhe explicar porque ela agora é uma igreja renovada. Sabe o que você vai ouvir? No máximo um fragmento do versículo citado em Habacuque, isolado e fora do contexto, e, um discurso desprovido de Bíblia sobre curas, revelações, danças e línguas estranhas, como se nosso Senhor Jesus Cristo se limitasse a agir em movimentos “renovadores”. E como falamos a pouco acerca de uma visão empresarial, muitas vezes o funcionário demitido é o próprio pastor, por falta de “produtividade”. Na verdade ele não queria ficar só com fragmento de versículo, e sim com o versículo inteiro. Primeiro, a Palavra. Depois, o avivamento. E, finalmente, todo cuidado para não desagradar ao Senhor.

Levante a mão um membro das principais denominações tradicionais deste país que, ao se identificarem a irmãos de outras denominações mais jovens não ouviu a seguinte pergunta: “tradicional ou renovado”?

Estes são os equivocados. Na verdade estão querendo saber: “em sua igreja se pula e grita na hora do culto de uma forma que mal podemos ouvir a Palavra de Deus”? Ai de você se disser o contrário. O irmão vai te olhar com uma cara de compaixão tão sincera que vai dar vontade de chorar, como se você estivesse há anos-luz de Cristo Jesus, mais ou menos assim: coitadinho, ainda está em uma igreja tradicional…

Habacuque pede a Deus que avive sua obra. Deus não acena para o profeta no sentido de que ponha fim a Israel. Que destrua a religião que ele mesmo, Deus, havia gerado junto a seu povo escolhido. Com a vinda de nosso Salvador Jesus Cristo, uma nova forma de comunicação se estabelece entre Criador e Criatura. O Espírito Santo passa a habitar no interior dos eleitos. Uma possibilidade até então desconhecida na prática por Israel, embora não estranha (Jeremias 31:31-34). Como uma novaaliança revoga a antiga (Hebreus 8:13), o judaísmo silencia ao fechar os olhos ao Messias Filho de Deus e a humanidade ganha sua chance. Eis a Igreja de Cristo. Eis a igreja de Deus. Eis a Noiva do Cordeiro.

Essa é a igreja pela qual devemos clamar a Deus para que a avive, e não rachá-la como quem divide uma pizza. Mas o que isso quer dizer? Como a Palavra de Deus é imutável, as considerações são as mesmas. Mais Palavra. Mais temor. Igual a avivamento verdadeiro. Deus não mandou seu povo se dividir em nome de um movimento. É fato indiscutível que, o próprio Wesley, o maior avivalista europeu dos últimos séculos jamais se considerou fora de sua igreja de origem. Ele, como homem de Deus, à frente do último avivamento verdadeiramente bíblico registrado na Europa, apesar de alguns excessos, típicos de orientações proto-pentecostais, sabia que avivar a obra de Deus, era levá-la novamente ao patamar de espiritualidade necessário para que esta parecesse bem aos olhos do Senhor, a ponto de poder ouvir sua voz de forma clara e real.

Os equivocados da contemporaneidade misturaram tudo. Fizeram da busca por avivamento uma divisão sem precedentes na história da humanidade. Está frio? Está fraco? Está silêncio demais? Então vamos embora e criemos nossas próprias regras, e, se pudermos levar mais uns com a gente, melhor ainda. Há muito tempo atrás um anjo gerou um embrião que daria origem a este pensamento. Curiosamente, isto vem ditando as regras do protestantismo, principalmente nas Américas nas últimas décadas, que tem como “templo de Salomão” a idolatrada igreja da Rua Azusa, berço institucional do movimento pentecostal, hoje fechada. É só fazer as contas. Mais de 80%das denominações religiosas abertas nos últimos 80 anos no Brasil são de orientação ou pentecostal ou neopentecostal. Isso não é uma coincidência.

Pode uma igreja tradicional ser avivada? Não só pode como deve. E isso quer dizer: mais Palavra de Deus, mais oração, mais reverência, mais evangelismo, mais ação social, mais consagração, mais compromisso. E tudo isso pode ser feito com decência e ordem. Equivoca-se quem acha que não.

Fonte: http://goo.gl/xCW3rY

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