Ele virou um ícone da diplomacia internacional ao negar a existência de armas de destruição em massa no Iraque de Saddam Hussein e, assim, desbancar o argumento da invasão do país pelos EUA em 2003. Pelo trabalho que fez na direção da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU, de 1997 a 2009, Mohamed ElBaradei recebeu o prêmio Nobel da Paz, tornando-se mundialmente conhecido. Mas, dentro de seu país, o Egito, ElBaradei sabe que ainda precisa trabalhar muito para ganhar o reconhecimento que o mundo já lhe deu. Por ter passado tantos anos longe de casa, ele é visto por muitos como uma figura apática e desapegada dos assuntos internos. ElBaradei não só nega as “acusações”, como diz que será candidato nas primeiras eleições livres do Egito em quase 30 anos, após a queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro. De fato, antes mesmo do início dos protestos deste ano, o diplomata já havia retornado ao Egito e anunciado que gostaria de enfrentar o ditador nas urnas.

Em entrevista ao G1, por telefone, do Cairo, ElBaradei falou sobre democracia, sobre as lutas nos países árabes e, claro, sobre questões nucleares – tema de “A era da ilusão”, seu novo livro, lançado em junho no Brasil pela Editora Leya. E disse que gostaria de aprender mais sobre música brasileira. Confira a entrevista:

G1 – O mundo acompanhou seu trabalho na agência nuclear e depois a batalha de seu país contra a ditadura de Hosni Mubarak. Então me diga, na primeira eleição livre do Egito em quase 30 anos, o senhor será candidato?
Mohamed ElBaradei  –
Eu pretendo concorrer à Presidência na eleição que deve ocorrer no final deste ano ou começo do ano que vem, de acordo com o cronograma. Ainda não se sabe com certeza. Eu venho pedindo ao Conselho Militar que faça uma previsão clara de datas, o que ainda não aconteceu. Acho que agora o cenário que vemos é a eleição parlamentar em outubro, novembro, seguida de uma Assembleia Constituinte eleita pelo Parlamento para fazer uma nova Constituição que será colocada em referendo e aí ter a eleição presidencial. No meio tempo acho que eles agora estão trabalhando em uma carta de direitos.

G1 – Fale desta carta de direitos.
ElBaradei –
Como uma maneira de sair dessa bagunça constitucional em que estamos, para fazer as pessoas se sentirem seguras de que teremos uma Constituição que represente os diferentes setores da sociedade, eu propus que tenhamos uma carta de direitos, que garanta os direitos universais básicos – liberdade de religião, de expressão etc. Isso antes de fazer o esboço da Constituição. Também propus que essa carta seja fixa, sem possibilidade de mudanças e emendas.

Coloquei a minha proposta de carta na internet e pedi que as pessoas fizessem comentários, pois todos têm que concordar. Vai haver um comitê para avaliar as propostas de cartas, mas no fim sabemos os direitos básicos de todo seres humanos no mundo. Acho que, se conseguirmos fazer isso, uma carta que garanta os direitos consagrados que todos concordam, será um grande avanço antes de irmos ao próximo passo de adotar uma nova Constituição.

G1 – E o senhor acredita que essa carta irá acalmar os ânimos da população? Pois as pessoas voltaram às ruas, continuam protestando. A revolução não acabou?
ElBaradei – Não, a revolução não acabou. A revolução foi desencadeada. Mas acho que ela irá continuar até que as pessoas vejam que as razões pelas quais eles se revoltaram foram alcançadas. Nesse momento, eles veem que seus objetivos, de justiça e liberdade, não foram alcançados. As pessoas continuam nas ruas. Eles acreditam que a Justiça está lenta e está sendo negada a eles. Eles também querem um cronograma para as mudanças, e ainda há questões sociais.

Claro que temos um problema, pois investidores ainda estão ainda num modo ‘esperar para ver’, o turismo não voltou aos número que tinha antes. Há uma crise financeira, não há dinheiro suficiente para responder rápido à expectativa social, que é o que se imagina depois de uma revolução, não se pode mudar do dia para a noite. Esse é um dos desafios que estamos enfrentando.

Fonte: g1

 

Deixe seu Comentário

All fields marked with an asterisk (*) are required