“O que faria Jesus?”. Esta pergunta breve, mas de grande relevância foi o que guiou a vida do alemão Martin Niemöller, chegando até mesmo a colocá-lo em conflito com o regime nazista.

No início, ninguém conseguiria imaginar que o pastor protestante seria um símbolo da resistência cristã contra o nazismo. Nascido em 1892, Niemöller decidiu seguir a vida ministerial, assim como seu pai, mas também foi educado para ser fiel ao sentimento patriótico alemão.

Depois de concluir o ensino médio, passou a integrar a Marinha alemã como soldado de carreira. Mesmo formado em teologia, Martin permaneceu fiel à sua ideologia patriótica e conservadora. Em 1924, ele votou a favor do ‘NSDAP’, o partido de Hitler. Mas após a subida dos nazistas ao poder, em 1933, Niemöller – então líder de uma igreja em Dahlem, Berlim – viu sua fé ser confrontada por suas decisões políticas.

“Ter fé significa seguir Jesus. E a quem afirma acreditar em Jesus Cristo, posso perguntar sobre a sua vida e dizer: você acha que ele aprovaria o que você faz hoje? Que, com isto, você está sendo sucessor de Jesus de Nazaré?”, costumava refletir o pastor. Estes pensamentos o levaram a se opor cada vez mais ao governo que outrora ele teria apoiado.

O combate à intolerância

Apesar de ser um patriota declarado, Niemöller começou a ver que o nazismo conflitava com a fé cristã e protestou contra a aplicação do “parágrafo ariano” na Igreja e a distorção da doutrina bíblica por parte dos nazistas que se diziam cristãos.

Para lutar contra a segregação de cristãos de origem judaica, o pastor criou no outono de 1933 a Liga Pastoral de Emergência, transformada posteriormente no movimento ‘Igreja Engajada’. O grupo negava total submissão à direção oficial da Igreja na época, a qual apoiava o regime nazista.

Niemöller acreditava tanto que poderia contribuir para a mudança do cenário de intolerância, imposto pelo nazismo na Alemanha, que ousou confrontar o próprio Hitler em certa ocasião.

Em 1934, durante uma recepção na chancelaria em Berlim, o pastor se aproximou do ditador alemão, que queria eximir a Igreja (oficial, apoiadora do nazismo) de toda responsabilidade pelas questões “terrenas” do povo alemão.

“Ele me estendeu a mão e eu aproveitei a oportunidade. Segurei sua mão fortemente e disse: ‘Sr. chanceler do Reich, o senhor disse que devemos deixar em suas mãos o povo alemão; mas foi alguém inteiramente diferente que colocou a responsabilidade por nosso povo em nossa consciência’. Ele puxou, então, a mão, dirigindo-se ao próximo, e não disse mais nenhuma palavra”, contou o pastor.

Na mira dos nazistas

Apesar de não dar uma palavra como resposta ao pastor, Hitler não deixou o episódio passar em branco. A partir daquele dia, Martin começou a ser cada vez mais vigiado pela Gestapo – polícia secreta nazista.

O pastor chegou a ser proibido de pregar o Evangelho, imposição esta que não aceitou. Em 1935, Martin Niemöller já era visto como o mais importante porta-voz da resistência protestante contra o nazismo, sendo preso pela primeira vez e logo libertado.

Em meados de 1937, durante uma de suas pregações, ele disse: “E quem, como eu, que não viu nada a seu lado no ofício religioso vespertino de anteontem, a não ser três jovens policiais da Gestapo – três jovens que certamente foram batizados um dia em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e que certamente juraram fidelidade ao seu Salvador, e agora são enviados para armar ciladas à comunidade de Jesus Cristo –, não esquece facilmente o ultraje à Igreja e deseja clamar ‘Senhor, tende piedade’ de forma bem profunda”.

Em julho de 1937, Niemöller foi novamente preso e após cerca de sete meses, no dia 7 de fevereiro de 1938, começou o seu julgamento diante do regime nazista, representado pelo Segundo Tribunal Especial, em Moabit, Berlim.

As acusações contra o pastor alegavam que ele teria usado o púlpito para criticar as diretrizes do governo alemão “de maneira ameaçadora à ordem pública”, além de ter feito “declarações hostis e provocadoras” a respeito de alguns ministros do Reich e, com isto, o líder cristão teria transgredido o “parágrafo do Chanceler” e a “Lei da perfídia”.

O Tribunal expediu a sentença: sete meses de prisão e 2 mil marcos de multa.

Os juízes, porém, consideraram a pena cumprida, em função do longo tempo de prisão preventiva. Niemöller deveria assim ter deixado a sala do tribunal como homem livre. Para Hitler, no entanto, a sentença pareceu muito suave. Ele enviou o pastor para um campo de concentração, como seu “prisioneiro pessoal”. Até o fim da guerra, durante mais de sete anos, Martin Niemöller permaneceu preso, primeiro no campo de concentração de Sachsenhausen, depois em Dachau.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO DW

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