O cantor e Compositor Domá da Conceição bebeu nas fontes do rock e das folias regionais para encontrar seu porto seguro na música folclórica em Goiás
Depois de lançar seu primeiro disco, o exímio violeiro Domá da Conceição comemora outro feito na carreira de mais de 20 anos: a exibição na França de um documentário sobre sua vida e obra. O curtaAnjo Alecrim produzido e dirigido por Viviane Louise que recupera passagens importantes da vida e carreira do artista, um dos mais destacados representantes das folias de reis do Centro-Oeste.

O filme foi exibido em Paris, em outubro do ano passado, na programação do Ano do Brasil na França. São 21 minutos rodados em película de 35 milímetros cuja trilha, assinada pelo protagonista, ganhou prêmio de melhor trilha sonora no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), em junho de 2005 na Cidade de Goiás. O objetivo do violeiro e folião agora é lançar o documentário em DVD.
Ancorado nos ritmos da folia de reis, catira, guarânia, do chamamé e da congada, Anjo Alecrim é uma reunião de peças de domínio público e composições próprias que Domá burilou ou mesmo recuperou depois de se desvencilhar da influência pop que o marcou por anos. O CD foi produzido pelo violonista Luiz Chaffin e contou com a participação da folclorista Ely Camargo que canta com ele numa das faixas (Está Dito). Domá compôs quatro das 11 faixas do disco.
Cantor, instrumentista e compositor, Domá da Conceição iniciou a carreira em festivais de música em Goiás e outros estados. “Bebi de tudo com vontade, de Bob Dylan a Iron Maiden”, diz.. Na década de 80, até que, em Uberlândia, viu Juraíldes da Cruz e Genésio Tocantins apresentando-se em um festival da cidade.. “Quando olhei para eles no palco, com aquelas roupas simples, violão na mão e sandálias nos pés, aquilo mexeu comigo”, revela Domá.
Mesmo assim, a retomada das folias e dos ritmos da infância viria devagar. Era o auge do rock rural defendido por Zé Rodrix, Tavito, Sá & Guarabyra, 14 Bis e outros. “Mas ainda usava a viola roqueira de 12 cordas. Foi nessa época que ganhei muitos prêmios em Inhumas (interior de Goiás), Minas Gerais e São Paulo”, recorda.
Logo os festivais começavam a dar os primeiros sinais de esgotamento. “Aí me frustrei, perdeu a graça. Fiquei deprimido e voltei para a roça, em Abadia”, relata, lembrando que o irmão (João Anacleto, o Nenzinho da Viola) o ajudou a construir um “ranchinho” no local, onde passou a receber visitas freqüentes da folclorista Ely Camargo.
Foi com Ely Camargo que Domá da Conceição teve seu segundo e definitivo “insight”. “Quando ela disse que meu trabalho era educativo, esse termo me chamou tanto a atenção que comecei a sonhar com palhaço, criança e a cantoria de meu pai”, afirma. A partir daí, Domá deixou o violão, que ainda o acompanhava no rancho de Abadia, pegou a viola caipira e começou a percorrer escolas mostrando os ritmos tradicionais do interior.
A tradicional folia de reis de Abadia de Goiás voltou a receber a voz rascante e a figura carismática de Domá. Nos shows, passou a usar as fitas coloridas que tradicionalmente enfeitam as folias e máscaras que ajudam a compor seu figurino único. Dos périplos pelas escolas, surgiu a idéia do disco e outros convites para apresentações. Um deles importante: o da Universidade de Brasília (UnB), onde ficou como convidado por quase um ano, em 1999.
A vida de eremita (ele ainda vive apenas na companhia de uma cadelinha e um gato vira-latas) levou Domá aos livros e à religião, sendo que a leitura de Goethe e Nietzsche passou a ser habitual para alguém que não passou da 5ª série. “Quanto mais leio esses caras mais me convenço de que preciso continuar tocando minha violinha”, diz em tom confessional. Nas folgas, diz que gosta de ouvir música clássica. “De preferência Bach.”
A volta às folias, diz, é para valer. “Só apresentarei esse disco quando puder colocar toda a banda no palco e com boa produção. Chega de improvisos”, promete a si mesmo sobre novos shows. O cantor mandou algumas cópias do CD para Itália e Suíça e mostra-se otimista com a ampliação do espaço da cultura popular. “É tal a nossa saturação musical hoje em dia que não vai demorar muito para esses rituais terem espaço cativo, inclusive nas rádios”, arrisca, meio que sonhando.

Em função dos necessários ajustes e detalhamentos da formatação de uma futura possível parceria, desde já, colocamo-nos nossa equipe à inteira disposição desta importante instituição.

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