No fim de semana, quem leu o noticiário na internet acompanhou o drama de um grupo de turistas brasileiros no Oriente Médio. O ônibus em que viajavam foi atacado por beduínos que não hesitaram em metralhar o veículo. A descrição da testemunha é de que os sequestradores demonstravam treinamento de guerrilha porque agiram com rapidez e de modo assustador pareciam saber quem procuravam. Duas mulheres foram levadas, assim como o guia da excursão.
Uma das reféns, uma moça de 18 anos, estava acompanhando os pais e uma irmã e imagino o terror que tomou essa família. Por maior que seja nossa noção de realidade e perigo, certas situações nunca imaginamos acontecer conosco, muito menos num momento de descanso e viagem.

Certamente aquele casal que viu sua filha ser subtraída pesou com muito temor a sua decisão de fazer esse tipo de turismo e ponderou com muito sofrimento os passos que os levou àquela situação.

Li a entrevista do pai, concedida enquanto ele esperava notícias. Um pastor de 60 anos, segundo o site de notícias, que não pode fazer nada para livrar sua filha. Imaginei o que ele experimentou nesse tempo tão curto, mas de flagelo. Imaginei-o perplexo diante da impotência pra mudar a situação, a incerteza sobre o que realmente estava acontecendo com a filha e a amiga da família, tudo agravado pela falta de ambientação, tudo acontecendo muito longe de casa e em uma cultura em nada coincidente com a nossa. Imaginei a confiança relutante colocada sobre a palavra do policial que assegurou resolver a situação e marcou prazo para o reencontro com a moça sequestrada. Imaginei a profunda frustração com o atraso no cumprimento da promessa.

A verdade é que por mais que as informações sobre o Oriente Médio estejam muito mais acessíveis ao Ocidente do que em nenhum momento na história, não muda o fato de que um brasileiro permanece muito distante e não incorpora a densidade cultural dos conflitos dos povos daquela região. Tendemos a menosprezar a seriedade do ímpeto beligerante daquelas nações e daquelas tribos e essa tendência, associada ao interesse que a Terra Santa e suas vizinhanças sempre despertaram num povo de raiz cristã e ao poder aquisitivo maior do brasileiro que tem agora a capacidade de realizar mais sonhos, pode revelar-se um perigo ao qual mais pessoas estão se expondo.

Felizmente o sequestro das duas brasileiras se resolveu rápido e sem maiores traumas, mas uma atitude como essa, praticada por beduínos que são um povo mais simples, cujas exigências no sequestro se limitavam à libertação de companheiros, pode servir de exemplo e inspiração para grupos mais radicais e de intenções mais resolutas.

O governo brasileiro, por meio do Itamaraty já alertou os turistas sobre os riscos que existem em uma viagem para regiões de conflitos. A Terra Santa, a vizinhança do monte Sinai, citado na Bíblia como o local em que Deus entregou às Suas Leis para que Moisés as transmitisse ao seu povo certamente é um destino que vale a pena conhecer, certamente é uma viagem inesquecível, mas ninguém pode abrir mão de optar por essa viagem de forma consciente. Embora a região seja desmilitarizada desde 1978, é preciso considerar que pouco mais de 3 décadas não tem o poder de mudar totalmente os traços comportamentais de uma cultura.

O brasileiro tem ganhado asas com a valorização da moeda nacional, com o aumento de seu poderio de compra, com melhores salários e economia que não se abate facilmente. É uma conquista que um número maior de cidadãos consiga fazer viagens internacionais com a família toda, até pouco tempo isso era um privilégio de poucos. Agora, além do deslumbramento de conhecer o mundo é preciso adquirir respeito pelas realidades que se pretende visitar, é preciso levar a sério o contexto das nações que tanto se quer conhecer e ponderar que as notícias de guerras e conflitos são reais. É preciso calcular se vale o risco. Prevalecendo o interesse de viver essa experiência, é fazer as malas sem esquecer de levar na bagagem um espírito corajoso e disposto a enfrentar percalços como os vividos pelas duas compatriotas.

Reitero que é uma alegria que tudo tenha ficado bem e na continuidade da minha empatia com essa família, imagino o alívio daqueles pais em poderem voltar em paz para casa.

César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

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