Herman Cain tinha tudo para ser o candidato republicano para enfrentar Obama na próxima eleição. Seus pensamentos mais conservadores davam-lhe trânsito livre entre os correligionários, sua cor de pele era tratada pelos estrategistas como um trunfo, uma arma para equipará-lo emblematicamente ao presidente democrata. Seu discurso afinava-se à retórica recorrente das medidas econômicas que sempre fascinaram os americanos. Enfim, Herman Cain era o cara.

Era. O verbo no passado é inquestionável depois dos últimos escândalos envolvendo o seu nome. Se armados ou não, se resgatados de um passado remoto ou não, o fato é que as denúncias de assédio sexual desmantelaram as vantagens de Cain.

Os Estados Unidos não perdoam os deslizes e descuidos morais. Para a sociedade americana, o homem público deve manter zelo constante não apenas por suas decisões públicas, mas também pelo que faz na vida privada. Existe uma compreensão clara de que o homem é o que é em qualquer lugar e ninguém segmenta comportamentos. Se o candidato foi capaz de trair a esposa, é capaz de trair a nação.O candidato pode defender-se alegando que há uma campanha de difamação para derrubá-lo do pleito. Apesar de possível, o argumento não convencerá o país que entende que ele devia ter se vacinado com uma conduta acima de qualquer suspeita.  É este o raciocínio lógico do americano e quem pode refutar essa verdade?

A moral do cidadão em qualquer lugar do mundo é coesa. Não é razoável pensar que uma árvore possa dar frutos bons e maus quando quer. Assim também funciona a cabeça humana.

O político que não se envergonha de envolver-se em escândalo no âmbito pessoal, não terá pudor ao tomar decisões investido da autoridade delegada pelo povo. Um homem público que compra drogas, certamente não terá eficiência contra o crime organizado que ajuda abastecer. Um candidato que desonra seus pais e sua família, não demonstrará honra pela sua pátria, pelo seu povo. Aquele político que não presa a fidelidade à sua esposa e aos seus filhos, terá menos fidelidade ainda para com seus compromissos de campanha e para com seus aliados. A vida pessoal e a conduta de cada indivíduo na vida privada são sinais claros que deveriam orientar o eleitor em toda parte na escolha de seus representantes.

Nos países civilizados e desenvolvidos a conduta moral dos governantes recebe grande destaque não por fofoca, mas porque a informação causa um impacto real nas relações políticas. Ser infiel, ser abusador de mulheres, viciado e desregrado são características que não se isolam no comportamento familiar, mas permeiam todas as relações do candidato, inclusive às ligadas à administração pública.

Eu acredito que caminhamos, com o aperfeiçoamento da nossa democracia, para dias assim, em que  àqueles que ambicionam um cargo público terão que se destacar pela sua idoneidade e pela índole acima de qualquer suspeita.

Acredito que, com investimento em educação e com a maior politização das pessoas, nos tornaremos mais exigentes e mais precisos na cobrança de qualidade por parte dos nossos políticos. Será necessário demonstrar conhecimento, capacidade, mas sobretudo, será necessário convencer o eleitor da decência, da sinceridade de propósito, do zelo moral para com a coisa pública e para com o outro.

Acredito que chegaremos ao ponto da “intolerância” para com os escorregões que revelam muito sobre o jeito de andar de cada um. Entenderemos então que aquele que se dispõe a governar só será fiel no muito se for também fiel para com os amigos, para com a família, para aqueles que o conhecem na intimidade.

Os Estados Unidos elegem presidentes para se orgulhar deles. Com raríssimas exceções, os nomes de todos os que ocuparam a principal cadeira daquele país são respeitados. Os ex-presidentes tornam-se patrimônio nacional e para manter o valor desse preceito é que os americanos costumam deter-se na avaliação de posicionamentos morais daqueles que se candidatam.

No Brasil, precisamos ainda a aprender a valorizar as instituições dessa maneira e estimularmos o aparecimento de homens cada vez mais dignos e honrados para nos representar em qualquer esfera.

Acredito que já estamos nesse caminho e acredito que também trabalhamos por isso ao nos posicionarmos no que concerne à nossa própria vida. Só um povo que preza valores éticos e os pratica tem consciência e capacidade de exigir o mesmo de seus políticos.

 César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

Deixe seu Comentário

All fields marked with an asterisk (*) are required