Entender a política americana não é supérfluo nem um luxo desnecessário. O que acontece nos EUA, de um jeito ou de outro, influencia na vida do mundo todo. As técnicas políticas, as decisões de mercado, os rumos da economia adotados pelos americanos, em algum momento afetarão a vida de quem está em outro ponto do planeta. Embora se diga que a expressão americana perdeu intensidade para chineses, por exemplo, os EUA ainda são a nação mais influente e importante politicamente e por isso, quem quiser ter uma visão ampla da história que estamos construindo precisa perceber os movimentos da política interna americana.
E isso não é difícil. Diferente do pluripartidarismo brasileiro, que permite uma gama de legendas com diferenças mínimas e ainda não se assusta com as mudanças abruptas de comportamento e ideologia dos partidos, nos EUA tudo é claro e historicamente definido.
Há dois lados na política americana: Republicanos e Democratas. Ambos são arraigados no capitalismo e por isso, se fôssemos fazer uma correspondência com a Direita e a Esquerda brasileira, originada das doutrinas marxistas, encontraríamos poucas semelhanças entre Democratas e Esquerdistas. No entanto, no contexto americano, o atual grupo no poder pode ser tido como menos conservador, mais próximo da visão de que o Estado deve interferir na vida da nação.
Obama tem dedicado seus anos de governo até agora na tentativa de mudar instituições com que o americano já se acostumou, sendo injustas ou não. Um exemplo é a reforma da Saúde. Obama quer criar um sistema único que leve assistência aos mais carentes. Hoje, todos dependem de planos privados e o país é refém das empresas de assistência. Quem não tem o seguro saúde, pode morrer à míngua. Não existe uma saída gratuita, pública, bancada com o dinheiro do contribuinte.
E não existe uma saída pública para muitos serviços e por isso, justamente por isso, o imposto que o americano paga seja um dos mais baixos do mundo.
Fornecer serviços públicos pode onerar o contribuinte. Ora, o americano, por mais liberal que seja, não quer perder seu padrão de vida. O tal “espírito americano” é a garantia de poder prosperar sem que o Estado atrapalhe, sem que o governo interfira. Interferir significa confrontar essas qualidades de que o povo todo se orgulha.
Por mais justa que seja a intenção do presidente, a forma de concretiza-la intimida boa parte da nação de conceitos arraigados. O medo que o americano tem de ser tragado por altas sucessivas na carga tributária – e nós brasileiros sabemos bem o que é isso – pode comprometer os projetos de reeleição de Obama.
Pesa contra Obama os números da economia e a alta taxa de desemprego. Segundo a BBC, sempre que um presidente tentou ser reeleito, só houve sucesso para os que governaram com taxa de desemprego abaixo de 6%. Obama enfrenta índices de 9,1%. São 14 milhões de americanos desempregados e que representam um obstáculo e tanto.
A corrida presidencial já começou acelerada, com uma disputa acirrada e quente entre os candidatos republicanos. É um confronto de gigantes da política em que apenas um restará. Depois das prévias, o candidato republicano já virá aquecido para o combate nas urnas. Obama por sua vez, poderá estar vindo de sucessivos desgastes provocados pelos números da economia que não reagem, pelos problemas internos do governo, pelos projetos que não se concretizam por causa da resistência dos congressistas – republicanos são maioria na Câmara. Em outras palavras, o duelo já seria difícil de qualquer forma, os republicanos acertando na escolha do candidato mais preparado, a reeleição pode não acontecer.
O presidente Obama ainda tem muito de seu projeto político para realizar e para conseguir mais tempo para isso, precisará agir agora com destreza política e criatividade. As chances políticas dependem da habilidade em convencer o americano de que seu intento não se opõe à recuperação econômica e nem implica na intervenção do governo na vida prática. Não será uma tarefa fácil.
César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br