Há alguns anos, recordo-me de ter lido uma reportagem em uma revista de grande circulação nacional que falava do milagre do desenvolvimento da Coreia do Sul. Um país destroçado pela guerra, com uma economia frágil, dependente de nações como Japão por exemplo, roçado pelo analfabetismo e que superou todas as suas dificuldades com um investimento consistente na formação educacional de seus cidadãos. O país definiu que só sairia do buraco dedicando-se à educação básica, fortalecendo o conhecimento matemático e desenvolvendo suas crianças e adolescentes.
A história e os números resultantes da disposição coreana eram de entusiasmar e despertar a reflexão do porquê no Brasil não seguíamos o mesmo caminho. A educação pública é universalizada, está em todos os lugares, porquê não torná-la de boa qualidade? Seria tão complexo, uma economia como a nossa, uma nação como a nossa dedicar-se à formar seus cidadãos com ensino de qualidade?
A reflexão feita no última sexta-feira, pelo Governador Marconi Perillo, em artigo publicado na Folha de São Paulo mostra que, felizmente, esta também é uma preocupação do governo goiano e mais: revela a coragem para empreender os primeiros passos na busca por uma reparação histórica e em direção ao progresso.
Acompanhando as notícias e a repercussão das primeiras mudanças adotadas em Goiás, entende-se facilmente o motivo por que muitos governantes preferem não tocar na ferida da educação brasileira. É uma área há muito sacrificada, massacrada por desvaloração por séculos. A categoria ligada ao magistério, durante décadas foi torturada pelo desprezo, pelas precárias condições de trabalho, viu seu padrão social despencar e sua consideração também. Há décadas atrás, o professor era tão respeitado quanto o médico e o juiz. Hoje, o profissional é exposto ao vexame do rótulo de mal sucedido. Tocar na educação, para qualquer alteração no ritmo e nos padrões é ter de enfrentar a reação de quem está ferido. Há um medo muito grande de mais perdas e a resposta mais impulsiva é a rejeição veemente à qualquer novidade. Gato escaldado, sabe?
Mas o governo assumiu o risco e o possível desgaste inicial para empreender, ousar, e arejar a educação e isso é doação, é priorizar o resultado para o estado muito acima da imagem do governo. O gesto de grandeza, certamente significará uma reviravolta educacional e um marco na história de progresso de Goiás.
As ideias do governo não surgiram de repente, nem vieram de mentes incautas. As mudanças são propostas reunidas em uma série de debates em todo o país, com especialistas e também com os mais interessados – estudantes e pais. As alterações estabelecem basicamente uma correção numa injustiça social. Até agora na educação pública sempre valeu a máxima de cada um por si tanto que todos já ouvimos dizer que “quem faz a escola é o aluno”. Na verdade, esse senso comum escondia a falha de que o ambiente escolar é desigual. Os mais frágeis ficam pelo caminho, se não “repetem”, permanecem analfabetos funcionais, se desencorajados, simplesmente abandonam as aulas. E o sistema segue sem eles. É cansativo demais para o professor insistir com os mais carentes de atenção, salas cheias, muito serviço, não sobra tempo. Quem acompanha, bem, quem não acompanha expressa pela vida a deficiência do ensino público.
A mudança no sistema educacional proposto pelo governo quer justamente reverter essa lógica. O princípio da nova política educacional é valorizar o professor e manter os mais didáticos e preparados junto aos alunos que mais precisam. Isso é promover igualdade social no futuro, isso é aparar arestas, anular injustiças e fomentar um Goiás amplamente fortalecido. Os alunos com dificuldade não serão apartados, marginalizados, mas receberão atenção e estímulo para romperem suas limitações. Imagina o bem que não se fará à auto estima daqueles que de outra forma seriam ainda muito jovens cerceados de qualquer oportunidade?
O funcionalidade dessa ideia está na política de bonificação e premiação por mérito. Quando as pessoas percebem que seu trabalho é reconhecido e valorizado elas investem nele. Está lançada a semente para um ganho significativo de qualidade no ensino. Tudo isso é reforçado pela outra base do projeto que é o investimento que o governo promete fazer no aperfeiçoamento do pessoal. Ninguém pode dar o que não tem. Nossos professores precisam sim receber atualizações, treinamento, formação continuada para que as escolas readquiram a vivacidade da busca intensa pelo saber. O ambiente escolar em nossos dias não pode ser cristalizado no tempo, mas precisa acompanhar o ritmo das inovações e do desenvolvimento das presentes gerações. O ritmo de informação está acelerado, na internet qualquer estudante tem acesso ao mundo todo. A escola, para ser atraente e efetiva, precisa refletir essa velocidade e atuar na celebração do conhecimento.
O desconhecido pode provocar o receio, mas a sociedade goiana precisa abraçar a causa da educação. A expressão usada pelo governo, de “Pacto pela Educação” é perfeita. É preciso optar agora pelo esforço conjunto de todas as forças políticas para que o projeto educacional de Goiás dê certo. O Governo merece apoio e elogios pelo trabalho brilhante que tem feito. Vaidades politiqueiras, interesses pessoais, bravatas dos oportunistas, nada disso deve se sobrepor à necessidade premente de formar goianos educados, esclarecidos, com condições de exercerem atividades com alto nível de qualificação e de contribuir para que, num futuro próximo, Goiás seja de fato a força do coração do Brasil.
César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br