O Rio de Janeiro inteiro virou um enorme recinto de debates e articulações em prol do meio ambiente. Até a próxima sexta-feira, e distribuídas por toda a cidade maravilhosa, acontecerão conferências para se avaliar o que o mundo tem feito para garantir a sustentabilidade do planeta e, em tese, apontar o caminho que deveríamos seguir na economia inteligente dos recursos naturais.

Tenho acompanhado a questão ambiental e não é de hoje. Desde a ECO 92, a minha geração e as que vieram em seguida, vem sendo conscientizada de que urge ação para conter estragos feitos durante décadas e séculos. Em resumo, entendemos que o crescimento e o desenvolvimento acelerado que se deu depois da revolução industrial criaram uma situação de colapso iminente e que é necessário não só estancar o dano das práticas nocivas, como rever toda a relação que a humanidade tem mantido com seu habitat natural, a Terra.

Apelos foram levantados há 20 anos atrás, alertas emitidos e terror para com um futuro catastrófico disseminado para sacudir paradigmas. Muitas das profecias de tragédias se cumpriram: secas mais agressivas, alterações climáticas que levaram à redução da calota polar, tempestades violentas que varreram países e ameaçaram até mesmo territórios que historicamente não sofriam incômodos.

Claro que, de lá pra cá, houve mudanças no comportamento frente à responsabilidade ambiental. Principalmente na Europa e nos Estados Unidos a reciclagem do lixo é uma pratica consolidada, as empresas caminha por incorporar valores de sustentabilidade às marcas. Mas estas são ações de varejo e que passam muito aquém da necessidade de uma reparação ecológica real por tudo que as nações desenvolvidas sacrificaram em sua jornada para o posto de potências econômicas. Consertar o estrago provocado por séculos de estímulo ao consumismo e por exploração desenfreada de recursos não renováveis exige muito mais do que espalhar lixeiras coloridas para a separação do lixo.

Infelizmente, no Brasil nem o mínimo vemos se cumprir como deveria ser. Apenas recentemente é que estamos começando a internalizar atitudes de sustentabilidade mínimas. Só agora, depois de muita informação veiculada, é que parte ainda pequena da população trouxe pra casa a responsabilidade de minimizar sua interferência na natureza. Ainda estamos brigando para que as pessoas não joguem papel na rua, e que os governos cumpram seu dever de criar destinações adequadas ao lixo e de investir no tratamento do esgoto por exemplo.

O que se tem visto no Rio de Janeiro, com a resistência em se aprovar uma proposta ampla de ações concretas e contundentes denota na prática uma doentia lentidão em agir diante do alarmante cenário de que o mundo está ficando pequeno e empobrecido para abrigar 7 milhões de humanos. A procrastinação anuncia um futuro de escassez e de tensões sociais. Já há gente sem comida e sem água no mundo, ainda há povos sem energia suficiente para ter acesso à tecnologia mínima e enquanto isso for considerado natural é sinal que rumamos vendados e a toda pressa para o caos.

Que pressão ou que informação ainda é esperada para que os líderes mundiais se movam para a prática?

Na Rio+20 não faltam ideias, nem informações, mas falta a disponibilidade de arregaçar mangas, ceder direitos legítimos, abrir mão de luxos e vantagens desproporcionais para garantir a sobrevida da Terra e a vida de milhares.

As negociações não pode travar no egoísmo que não recua centímetros e nem admite perdas pontuais. As negociações precisam ser norteadas pela urgência que temos de apresentar uma resposta ao futuro. Infelizmente, o documento que será assinado pelos líderes mundiais encolheu. As 200 páginas iniciais caíram para 80, depois 30 e sabe-se lá o que restará até a próxima sexta-feira.

O medo dos ambientalistas e dos pensadores da problemática ambiental é de que fiquemos, mais uma vez, iludidos com o discurso e avessos ao sacrifício necessário. O texto do documento que norteará as ações pelos próximos 20 anos, parece ter ficado leve demais. Talvez tenha sido a forma que os redatores encontraram para facilitar a aprovação, mas a política, no que tange os problemas ambientais, não pode ser açucarada, precisa ser assertiva.

O Brasil foi apontado como o quinto país mais sustentável do mundo na somatória dos índices criados pela ONU, mas estamos longe do ideal. A aprovação pelo congresso de um código florestal desconectado da realidade, que obrigou o governo a vetar parte da lei e editar uma medida provisória precária é uma brecha escancarada na armadura de quem deveria estar entre os líderes da busca pelo desenvolvimento sustentável. Mal foi criada, a legislação certamente mereceria nova revisão.

O momento que vivemos pede outra atitude do Brasil e dos brasileiros. Como cidadãos, nosso gesto deve ser o de eleger gente que tenha compromisso com a qualidade de vida que planejamos ter no futuro. Como cidadãos, nossa obrigação é assumir que temos responsabilidade para com o mundo e fazer a nossa parte.

Seguimos acompanhando a Rio + 20 com a esperança de que as decisões nos surpreendam e nos tragam diretrizes mais apuradas e profecias mais otimistas que as da ECO 92.

César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

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