Durante 16 dias o mundo inteiro se reuniu numa festa pelo esporte. Dias de Olimpíada são emocionantes porque nos trazem histórias de vencedores, de gente que supera as próprias limitações e que entra na busca constante pelo melhor, pelo excelente.

Acompanhar as disputas é conhecer personalidades e tomar aula de humanidade, de reações frente às dificuldades, de reviravoltas que a vontade e o esforço podem promover. É ver a firmeza de caráter manifestar-se em meio a dor física e ao cansaço e promover a perseverança, a resistência e o triunfo.

Em Londres, vimos atletas de elite comportarem-se como amadores. Em algumas situações tivemos a impressão de que ficaram longe do máximo, de que faltou empenho. No futebol, a grande expectativa sempre, a prata que seria uma honrosa conquista, acabou com gosto amargo, porque sabíamos que aqueles atletas são preparados e incentivados a se desdobrarem, e não demonstraram isso. As atletas do futebol feminino, eliminadas logo no início, nem se abalaram com a derrota, não ao ponto de negarem a balada na mesma noite.
Por outro lado, também conhecemos brasileiros que chegaram lá sem muito incentivo. Gente que não foi carregada pela expectativa. Poucos haviam ouvido falar de um Arthur Zanetti, ouro nas argolas. Poucos sabiam da existência da piauense Sarah Menezes, ouro no judô. E foi dessa menina que ouvimos mais uma vez uma grande verdade: não existe investimento em esporte no país.

A declaração de Sarah foi feita a deputados em Brasília. A judoca queixou-se da falta de um espaço para treino em sua cidade no Piauí, mas essa realidade não é restrita ao interior nordestino. Falta estrutura até mesmo nos estados mais ricos.

Na verdade, o que vemos é o interesse empresarial por explorar o esporte e a falta de investimento estratégico para transformar o esporte em ferramenta de formação de cidadania. Os esportes coletivos, caso do futebol, explorados pelo mercado publicitário e tantos outros interessados, transformaram-se em negócio lucrativo. Talentos são perseguidos pelos olheiros e rapidamente, sem sequer passar pela maturação necessária à vida, alçados ao posto de ídolos, de símbolos de poder, fama e dinheiro. Nem sempre o que é potencial precisa realmente convencer, quando antes que o faça uma multidão já grita atributos que mal foram plantados, que dirá consolidados. E aí temos estrelas do futebol acreditando que são o máximo, julgando legítimo torrar os milhões que ganham em farras e excessos e esquecendo-se que poderiam realmente tornarem-se inspiração a legiões de jovens que os miram como exemplo.

Por outro lado, esportistas de modalidades com menos visibilidade, a despeito de todo o talento e potencial, nem sempre encontram oportunidade de dedicação exclusiva por falta de dinheiro, de investimento, de patrocínio. Os que insistem, enfrentam dificuldades.

Quanto menos apelo da modalidade, menos incentivo e o abandono gradativo vai se ampliando. Já dá pra imaginar o que se vislumbra ao olhar a situação dos para-atletas.

Sem incentivo, mesmo se insistir, o atleta dificilmente conseguirá superar as dificuldades de treino, simplesmente pela escassez de oponentes à altura. Com quem treinar, com quem aprimorar a técnica se o número dos que se dispõem a remar contra a maré não é grande?

Isso faz de nossos atletas olímpicos, especialmente de esportes individuais, verdadeiros heróis, mas lança a sociedade brasileira a um cenário de desperdício e fracasso.

Nos países que investem em esporte, a prática não tem o único objetivo de impressionar o mundo de quatro em quatro anos. O sucesso em competições é mera consequência. O entendimento é de que o esporte ajuda na construção do caráter. Trabalhar em equipe, vencer as limitações, lidar com a competitividade, com a vitória e com a derrota, tudo isso é apreendido do ensino do esporte.

A prática deve voltar a ser estimulada dentro das escolas públicas, alcançando as crianças mais pobres, dando-lhes chance de sonhar com o futuro, estimulando-as a romperem com as barreiras impostas pela vida. O esporte pode ser sim a chave para retirar a juventude das drogas, da prostituição, da marginalidade. Hoje, apenas as famílias com mais recursos, ou aquelas alcançadas por iniciativas filantrópicas, tem a chance de apresentar seus filhos ao esporte. Não é justo e não é o melhor modelo.

Recordo-me que há 30 anos atrás, o esporte era encorajado nas escolas por meio da ação produtiva dos professores de educação física. Hoje, esses profissionais não são valorizados e não encontram recursos para despertar nos alunos o prazer de competir e desenvolver habilidades. Resgatar tanto o valor do professor, quanto a dinâmica esportiva nas escolas depende da implantação de políticas públicas, que reúnam esforços federais, estaduais e municipais.

Em Londres, a presidenta Dilma anunciou que o Brasil vai investir, principalmente nos esportes individuais, a fim de melhorar seu desempenho nas Olimpíadas. Ela prometeu construção de seis mil quadras e cobertura de outras 4 mil que já existem. Esse é um passo, e esperamos que seja apenas o primeiro no fortalecimento do esporte no país.

César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

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