Faroeste Caboclo é um filme brasileiro dirigido por René Sampaio e inspirado na canção homônima, da banda Legião Urbana. A saga de João de Santo Cristo e Maria Lúcia foi lançada em 1987 e conta a história de um nordestino que chega a Brasília, torna-se traficante, apaixona-se por uma jovem e tenta deixar o crime, mas é morto por um traficante rival.

O filme ainda tem data de lançamento indefinida. A principal locação do filme ocorreu no bairro Jardim ABC, bairro pobre da Cidade Ocidental, em Goiás, onde foi reproduzida a cidade de Ceilândia (DF) dos anos de 1970, retratada na música.

A produção, que marca a estreia em longa-metragem de René Sampaio, diretor de curtas e de publicidade, escalou Fabrício Boliveira, Ísis Valverde e Felipe Abib como protagonistas.

 Faroeste Cabloco

A canção Faroeste Caboclo sempre despertou o fascínio de quem a escuta pela primeira vez. Passado estado de comoção e perplexidade com uma música tão longo quanto bela, o desafio que geralmente se coloca é decorar seus 159 versos.

 Composta em 1979, Faroeste só chegou ao grande público em 1987, com o disco “Que país é este? 1978/1987″ . Ainda assim, alguns poucos privilegiados tiveram a sorte de ouvir antes disso a fantástica história de João de Santo Cristo.

 Muitos a ouviram ainda na fase do Trovador Solitário, quando Renato se apresentava sozinho em bares de Brasília, antes de formar a Legião Urbana.

 Há a versão de Flávio Lemos, baixista da banda Capital Inicial, que conta que Renato fez a música em “sua homenagem”. Flávio, que passava férias na casa de uma tia de Renato, na Ilha do Governador (RJ), teria ficado com uma prima de Renato da qual ele gostava. Renato achou aquilo uma traição e compôs a letra baseado nessa situação.

 A versão “oficial” diz que realmente Renato tocou a música pela primeira vez para parentes e amigos na tal casa da Ilha do Governador. As versões para a inspiração da letra, no entanto, são ainda mais numerosas.

 Alguns dizem que foi um motorista de táxi de Brasília que contou a história de seu irmão para Renato, que se baseou no relato para compor Faroeste Caboclo. Há a versão do triângulo amoroso que Flávio conta, entre outras tantas. Renato, porém, dizia que a letra era totalmente fictícia. Todo esse “mistério” só faz crescer a lenda em torno dessa música única.

 Seja como for, Faroeste Caboclo provoca em quem a ouve pela primeira vez os mais diversos sentimentos: surpresa, admiração, curiosidade, euforia, compaixão e, claro, vontade de ouvir de novo. O fato é que quem a ouve uma vez não esquece jamais. Ainda que leve um tempo para decorá-la.

Uma outra versão para a  história do Mito

 João de Santo Cristo, personagem criado por Renato Russo, figura no imaginário popular como um “bandido santo”, um tipo de criminoso que recebe o perdão e a admiração de sua comunidade ao corajosamente enfrentar um Estado injusto, que descuida da população menos favorecida.

 Nos anos 80, Edmilson Santana Lima, o Gregorinho, tornou-se o mais emblemático “bandido santo” do cerrado. No começo, Gregorinho, que fez parte das invasões transferidas para Ceilândia, só realizava um furto ou outro. Ainda assim, o nome estampado nas páginas policiais lhe conferiu fama por todos os bairros da Ceilândia, onde realmente desfilava como o maioral.

 O cordelista e pioneiro da Ceilândia, Joaquim da Nóbrega, de 58 anos, era vizinho da namorada de Gregorinho e não esquece a imagem do bandido. “Ele tinha uns 25 anos. Era magro, moreno claro, tinha o cabelo liso. Media seus 1,70m. Usava calça jeans, camiseta, e, faça frio ou calor, uma jaqueta jeans com dois bolsos em que vivia com as mãos para guardar os dois 38 cheios de bala”.

Cordelista Joaquim, o Lampião do cerrado

O problema é que Gregorinho “dançou e pro inferno ele foi pela primeira vez”. Na prisão, experimentou “violência e estupro do seu corpo”, e, ao sair, jurou vingança, tal como João de Santo Cristo. Segundo Seu Joaquim, Gregorinho, em entrevista aos jornais da época, ameaçou: “Fui preso inocente, agora vou ser preso devendo”.

 Parece que desde então, Ceilândia virou um Faroeste Caboclo e Gregorinho o “bandido destemido e temido no Distrito Federal”. A história de Gregorinho ficou conhecida em quase toda a cidade, principalmente pelos moradores mais antigos, e o que se diz é que o Fera da Ceilândia “não tinha nenhum medo de polícia, capitão ou traficante, playboy ou general”.

 Não era nem cinco da tarde e Seu Joaquim já via gente lavando os sinais de sangue do chão. Gregorinho não precisava das estrelas cadentes do Planalto Central para dar as caras. Gostava de agir no barulho do dia. O comum, ou o fraco na linguagem do cordelista, era parar em um bar e colocar o revólver no ouvido de um azarado qualquer e perguntar: “faz fé em mim ou não faz?”. Quem não tinha fé no senhor das armas, no homem das rezas, no terror da 15ª DP, na versão real de João de Santo Cristo de Renato Russo, não merecia viver. E puxava o gatilho.

 A polícia ensaiava inúmeras caçadas ao bandido pela Ceilândia, muitas delas cinematográficas, com direito à helicóptero e tiroteios. Gregorinho, porém, além de rápido era criativo e sempre escapava. “Certa vez, ele entrou fugido na casa da namorada e saiu vestido de mulher com uma peruca loura”, conta Joaquim. “A polícia ainda aconselhou a loura: Corre que o Gregorinho está aqui!”. Noutra vez o Fera fez uma passagem relâmpago pelo lote QNM7 de Seu Joaquim, pulando o muro de placa pré-moldada e escapando da bala que lhe alvejaram. Ficou o buraco da bala, que errou o alvo, e a lembrança vívida do cordelista. “Em casa estava eu, mãe, pai e… Geraldo você estava?”, pergunta Joaquim ao irmão mais novo. “De baixo da cama, que eu tinha medo”, responde Geraldo, de 39 anos, mais do que depressa.

 Certa vez Gregorinho se refugiou no Hospital Regional de Taguatinga e travou um tiroteio com a polícia. “Até os doentes caíram das camas para se salvarem”, conta Joaquim sério. Pacientes no chão e Gregorinho, mais uma vez, livre.

 Tem gente que até hoje carrega a marca do Fera da Ceilândia.  O primo de Joaquim é um. Gregorinho estava correndo da polícia quando notou Nascimento contando dinheiro para fechar o caixa da frutaria. Aí já viu! Podia ter patrulha, helicóptero, esquadrão da morte perseguindo-o, que, ainda assim, Gregorinho resolveu dar uma pausa na corrida. Nascimento, porém, resistiu ao assalto e ficou com a sina de abrigar duas balas nas costas até hoje, como lembrança do Fera.

 A liberdade do bandido, entretanto, não podia durar para sempre. Tardou, mas Gregorinho finalmente foi levado ao Complexo Penitenciário da Papuda pela segunda vez – agora, “devendo”. Na tentativa de fuga, não conseguiu escapar. Foi caçado e, enfim, a polícia acertou a mira, derramando o sangue de Gregorinho.

 O criminoso, depois de morto, virou mito em Ceilândia. No enterro, uma comoção. O povo sentiu a morte do herói marginal Gregorinho, e viveu a mistura paradoxal de “sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que (…) era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo”, pegando emprestadas as palavras de Clarice Lispector da crônica “Mineirinho”, sobre o bandido morto com 13 tiros pela polícia carioca em 1962 – outro dos muitos “bandidos santos” que povoam o imaginário e a história do Brasil. Agora fica a suspeita de que Renato Russo também balançou diante do Fera, e como resultado, permitiu-se inventar João de Santo Cristo.

Fonte: www.faroestecaboclo.com.br/

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