As ações preferenciais da Eletrobras despencaram 15,4% na Bolsa brasileira nesta segunda-feira (19) –a maior queda em mais de 15 anos. Investidores venderam os papéis com receio dos impactos negativos que uma possível renovação antecipada de concessões elétricas terá sobre os resultados da estatal.
Essas ações terminaram o dia a R$ 9,81, o menor preço de fechamento desde julho de 2005, quando foi registrado o mesmo valor. Já o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, subiu 1,89% aos 56.450 pontos, favorecido pelo bom desempenho das bolsas internacionais.
O diretor financeiro e de relações com investidores (RI) da Eletrobras, Armando Casado, afirmou nesta segunda-feira (19), em teleconferência com analistas e investidores, que a companhia terá que melhorar a sua estrutura para aumentar a eficiência, de acordo com o novo cenário da empresa.
Para fazer frente à perda de receita causada pela renovação das concessões, a Eletrobras precisará passar por uma reformulação geral, incluindo reestruturação da gestão e ganho de escala, disse Casado. “Chegou um momento de ser necessariamente eficiente para gerir esses ativos de operação e manutenção. E para entregarmos rentabilidade para novos investimentos”, disse.
“É uma reestruturação forte em cada empresa. Tem que apertar mesmo o sapato. Queremos mexer nessa parte da gestão, de ganho de escala, de melhorias na operação e na manutenção. “Com certeza, teremos de fazer alguma mudança nas distribuidoras”, disse ele em teleconferência com analistas e investidores.
A Eletrobras controla seis distribuidoras nas regiões Norte e Nordeste. As perdas causadas pela renovação antecipada e pela redução de tarifas das concessões de geração e transmissão levaram a estatal a estudar a possibilidade de vender as distribuidoras que estão no vermelho, como haviam antecipado à Reuters duas fontes a par do assunto..
Apesar das perdas, a Eletrobras, que é controlada pelo governo federal, não pretende questionar nenhum ponto da Medida Provisória que estabeleceu as regras da renovação dos contratos.
Casado disse ainda que a Eletrobras continuará investindo, mas que precisará de garantias da União para contratar novos financiamentos.
Na semana passada, a diretoria da Eletrobras já havia recomendado aos acionistas que aceitem a proposta de renovação feita pelo governo. Segundo Casado, para chegar a essa posição, a companhia não levou em conta ganhos de escala ou a remuneração de reinvestimentos nos ativos.
Ele também anunciou que o programa de demissão incentivada que estava em planejamento pela empresa será “acelerado”, devido à renovação das concessões.
RESERVA DE LUCRO
Ainda segundo Casado, o prejuízo acumulado que a companhia terá com o ajuste contábil do valor dos ativos que passarão pela renovação das concessões será abatido com reserva de lucro e reserva de capital.
O executivo afirmou, porém, que, se for consumida toda a reserva de lucro para abater o prejuízo, a empresa não terá como pagar dividendos.
“O que estamos calculando agora é o impacto direto que teremos do valor que está no ativo contra o valor da indenização. Isso pode levar ao ‘impairment’ [baixa contábil no valor de recuperação do ativo] de algumas concessões pela medida 579, tanto na transmissão quanto na geração”, afirmou.
Fonte: Folha