Os governos da Irlanda e da Finlândia também convocaram nesta terça-feira os embaixadores israelenses em suas capitais para protestar contra a decisão israelense de ampliar os assentamentos em territórios palestinos ocupados. Com eles, chega a dez o número de países a reclamarem formalmente. Entre eles está o Brasil.

Boa parte da comunidade internacional considera ilegal a presença israelense em território palestino. Há também argumento de que as construções acabarão por inviabilizar a solução de dois Estados, ou seja, a convivência, ao lado de Israel, de um Estado palestino com capital em Jerusalém Oriental.

Em especial, preocupa a situação de um assentamento, chamado de E1, que, se concretizado, dividirá a Cisjordânia em duas.

Ontem (3), cinco países europeus, Reino Unido, Espanha, França, Suécia e Dinamarca, tinham convocado os embaixadores israelenses. Nesta terça, além do Brasil, da Irlanda e da Finlândia, a Austrália e o Egito aderiram ao protesto.

Também fazem parte da reação europeia os governos russo, holandês e alemão, que expressaram publicamente seu descontentamento.

De acordo com o jornal israelense “Haaretz”, no caso do Reino Unido e da França, a construção do E1 é considerada uma “linha vermelha”. As duas nações estariam irritadas porque veem as medidas como uma demonstração de ingratidão por parte de Israel em relação ao apoio dado durante sua mais recente ofensiva contra as milícias palestinas na faixa de Gaza, que matou mais de 160 palestinos.

Na quinta-feira passada (29), por iniciativa do presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, a Palestina teve seu status na ONU (Organização das Nações Unidas) elevado de entidade observadora para de Estado observador não membro, um tácito reconhecimento da legitimidade do Estado palestino. Na votação, o Reino Unido se absteve e a França foi a favor. A resolução foi aprovada com 138 votos a favor, nove contrários e 41 abstenções.

O anúncio das construções não foi a única represália anunciada por Israel. O governo de Binyamin Netanyahu também decidiu não repassar US$ 100 milhões (R$ 213 milhões) arrecadados em impostos, em nome da ANP, neste mês de novembro. O montante representa até 50% do exíguo orçamento palestino.

BRASIL

Diplomatas israelenses disseram à Folha que o tom do encontro no Itamaraty foi “amigável”. A conversa foi conduzida pelo subsecretário-geral para África e Oriente Médio do Itamaraty, Paulo Cordeiro, que manifestou a “preocupação” do governo brasileiro com a ampliação dos assentamentos, mas não ameaçou aplicar sanções, como fizeram os países europeus.

“Esse anúncio não é construtivo”, disse o porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar Nunes. Na conversa, o Brasil afirmou ser um “erro” a iniciativa de Israel e disse que a expansão dos assentamentos é “contraproducente” na busca pela paz na região.

Durante o encontro, o diplomata brasileiro reiterou a posição do país, em fevereiro do ano passado, a favor de resolução do Conselho de Segurança condenando todos os assentamentos israelenses instalados em territórios palestinos ocupados desde 1967. Na ocasião, o texto foi vetado pelos EUA.

“Nós temos uma preocupação muito grande com a segurança de Israel, mas entendemos que essa expansão não pode continuar”, disse Nunes.

RESPOSTA

Em comunicado, ainda ontem, o gabinete de Netanyahu havia afirmado que não pretende recuar da decisão. “Israel continuará defendendo os seus interesses vitais, mesmo diante da pressão internacional, e não haverá nenhuma mudança na decisão que foi tomada.”

Para o governo israelense, é a liderança palestina que mina as negociações de paz ao forçar reconhecimento por meio de uma resolução da ONU. O reconhecimento do Estado palestino, afirmam os israelenses, é possível apenas dentro do âmbito do diálogo, com a concessão de garantias de segurança a Israel.

Mais cedo, o vice-porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, Paul Hisrschon, já havia minimizado a reação europeia. “Temos muito boas relações com esses países. Criticaram a nossa decisão, isso é público, e nós também não estamos particularmente contentes com o voto na ONU”, disse.

Para ele, convocar um embaixador para transmitir um protesto está dentro do normal.

Fonte: Folha

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