Aos 12 anos, enquanto participava de uma gincana, Rodrigo Mule da Silva foi provocado por algumas crianças do bairro: “Com que letra se escreve Maria?” Ele, sem saber responder, foi para casa triste e sentindo raiva pelas zombarias. Mas prometeu para si que isso nunca mais se repetiria.

Neste mês, aos 33 anos de idade, Rodrigo conquistou algo que aqueles meninos e uma paralisia cerebral pareciam duvidar. Concluiu o curso de Rede de Computadores pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e garantiu o diploma de tecnólogo, exposto com orgulho em seu quarto.

Rodrigo Mule da Silva mora em Canoas, no bairro Guajuviras, com os pais e o irmão mais velho. Nascido no município, passou por Novo Hamburgo e Bagé antes de retornar à terra natal. De acordo com Adriano Fagundes da Silva, 39 anos, que sempre cuidou do irmão caçula, ali ele teria melhores condições de fisioterapia e educação. Após um período na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), começou a estudar no Instituto Pestalozzi, já com 14 anos. Os movimentos limitados dos membros superiores, no entanto, forçavam-no a escrever com a caneta entre os dedos dos pés, esforço logo rejeitado pelos educadores.

Jovem com paralisia cerebral se forma na faculdade

— Lá não queriam que escrevesse com os pés. Perguntavam e eu respondia tudo oralmente — relembra Rodrigo.

Contudo, a habilidade que tinha para manusear objetos com os membros inferiores, desenvolvida ao longo dos anos nas brincadeiras de carrinho, não poderia ser ignorada. Completou até a 5ª série no Pestalozzi, concluiu o Ensino Fundamental na escola Guajuviras e o Ensino Médio na Gomes Jardim, sempre com um macete: copiava os conteúdos do caderno dos colegas no computador e os imprimia. Com esta “manha”, estudou, passou no Vestibular e cursou integralmente o curso superior na Ulbra — à exceção de dois semestres em que esteve afastado por problemas de saúde.

— A única diferença é que dávamos mais tempo para ele escrever, então tinha de fazer em outros horários. Mas ele sempre teve a mesma avaliação que os colegas. Por isso todo o mérito dele — diz o coordenador de atividades do curso, Christiano Cadoná.

Rodrigo reconhece que buscou forças extras para escrever o trabalho de conclusão. A recompensa veio em forma do número 10 escrito no topo da capa da monografia sobre o descarte do lixo eletrônico. A avaliação dos três professores integrantes da banca examinadora é corroborada pelo coordenador do curso Eduardo Isaia Filho:

— Ele nos deixou muito felizes pela qualidade. O trabalho dele atingiu um nível de excelência que outros não conseguiram.

Fonte : Zero Hora

 

Deixe seu Comentário

All fields marked with an asterisk (*) are required