O grande número de réus e vítimas aliado à estratégia da defesa de interposição de recursos sucessivos contra as prisões e à lentidão característica do Judiciário permitiram que todos os policiais militares (PM) presos durante a operação Sexto Mandamento fossem colocados em liberdade. Ontem, os últimos 7 dos 19 PMs detidos desde fevereiro foram soltos, sob manifestação de apoio de outros PMs .
Todos deixaram a prisão antes mesmo de serem julgados da acusação de integrarem grupos de extermínio em Goiás, pouco mais de nove meses depois da operação grandiosa deflagrada pela Polícia Federal (PF), que provocou repercussão em todo o País.
Detidos por força de decretos de prisão expedidos pelo juízo de Alvorada do Norte, foram soltos ontem, por volta das 18 horas, o tenente-coronel Ricardo Rocha, o sargento Geson Marques Ferreira, o tenente Ederson Trindade, além de Wanderley Ferreira dos Santos, Franscisco Emerson Leitão de Oliveira, Lourival Torres Inêz, Gilson Cardoso dos Santos.
A ordem de soltura partiu da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás, onde tramitavam habeas-corpus interpostos pelas defesas. A corte entendeu que a prisão deles se tornou ilegal por excesso de prazo, pois já se passaram mais de 90 dias do encarceramento, sem a devida conclusão da instrução criminal, como prevê o Código de Processo Penal (CPP).
Além da falta de conclusão do processo criminal, as investigações do caso chegaram a uma fase sem grandes avanços. Até agora, nenhum corpo de suposta vítima do grupo de extermínio foi localizado. Além disso, ao contrário do que se esperava, as investigações da Polícia Federal não resultaram em uma grande ação criminal mas, sim, o inquérito desdobrou-se em processos independentes. Isso quer dizer que um grupo de policiais, que atuava na mesma região, está sendo acusado da morte de uma pessoa e não das quase 50, que teriam, como apontado pela PF, sido assassinadas em supostos confrontos e de forma violenta pelos acusados.
Os PMs soltos ontem, por exemplo, estão sendo processados pela morte do operador de máquinas Higino Carlos Pereira de Jesus, de 24 anos. Ele foi assassinado em fevereiro de 2010, em Alvorada do Norte, na Região Nordeste de Goiás. Consta da peça acusatória apresentada contra os PMs pelo Ministério Público, que Higino estava em casa, no Setor Alvoradinha, quando oito homens chegaram em dois Celtas, um prata e outro vermelho, e invadiram a sua residência. O grupo ameaçou de tortura uma prima de Higino, que estava no local, caso o rapaz não aparecesse. O jovem foi encontrado dormindo, por volta das 14 horas, no fundo da residência. Os homens o algemaram e o levaram supostamente para uma delegacia.
O corpo do operador de máquinas, porém, foi encontrado às 17h30 do mesmo dia, às margens da GO-144. Ele havia sido alvejado por 30 tiros. Higino, que era usuário de drogas, tinha passagem na polícia por roubo e furto de novilhas e vacas.
Higino era primo de dois outros rapazes que desapareceram no dia seguinte ao assassinato dele. Eles foram vistos pela última vez quando tomavam banho no Rio Corrente. Pedro e Claiton Pereira, ambos de 23 anos, foram abordados pelos mesmos oito homens, que estariam desta vez numa Blazer e num Palio. Eles foram algemados e a moto de Pedro, levada dentro da Blazer. Até hoje não há pistas sobre os jovens.
fonte: o jornal