Os últimos dias em Goiás têm sido quentes. Literalmente quentes. O calor está castigando o Brasil e nós, que vivemos no Cerrado em que o período é tracionalmente seco, temos sido levados ao limite da tolerância da baixa umidade e da alta temperatura.
Ficar à temperatura ambiente é sofrimento. Certeza de muita transpiração e até de mal estar. Situação que tem sido forçosa até porque a o abastecimento de energia elétrica nos últimos tempos demonstrou que não suporta a demanda alta por eletricidade necessária para condicionadores de ar, ventiladores, banhos multiplicados ao longo do dia pela população goiana.
O abastecimento de água também deixou a desejar e nesta falha expõe a nossa fragilidade diante da sobrecarga que nós mesmo impomos à natureza. Nossos recursos naturais, de água e solo, são esgotáveis. A lição que fica é que, quem um dia lava calçada com água, no outro vai ver a louça acumulada na pia porque o que foi abundante acaba.
A onda de calor que enfrentamos e a consequente escassez de bens tão essenciais deveriam nos levar a uma mudança coletiva de atitude frente a preservação ambiental.
O caso é que, se não nos mobilizarmos, se não abdicarmos do que consideramos direito em prol do que devemos para com a própria humanidade, os dias por vir podem ser ainda mais difíceis.
O momento é de educar a população para que cada um assuma para si a responsabilidade com o futuro. Hoje, há serviços para guardar o cordão umbilical das crianças, como um investimento preventivo para a eventual e (indesejada) necessidade de usar células tronco em combate contra doenças sérias. Ora, se a doença que é apenas uma probabilidade já motiva investimentos assim, o que dirá das sérias questões ambientais que se anunciam por ondas de calor como essa? Porque será que não há veiculação suficiente para tirar a sociedade da apatia e direciona-la a ter a preservação da vida na Terra como prioridade?
Uma vez ouvi um jornalista dizendo que as emissoras e os veículos de jornalismo não investem na temática ambiental como deveriam porque não há retorno de audiência. As pessoas, simplesmente não estariam interessadas. Será que, na verdade, é porque ainda não se fez a ligação entre o comportamento predador, o dano ambiental e o desconforto que se avizinha?
Tratar a sustentabilidade como uma meta que deve ser bem mais desejada que a geração de riqueza é o caminho para frear a desabalada carreira da sociedade rumo a um precipício do qual não conhecemos o fundo.
O calor que nos fadiga a todos é a menor das consequências. Na lista dos pesadelos que o desequilíbrio ambiental sugere estão as tragédias naturais, como tsunamis, enchentes, deslizamentos de encostas que já mataram milhares nos últimos anos; a desorganização da agricultura, com alta no preço dos alimentos, desajustes econômicos e até a escassez e a fome; o acirramento dos conflitos e guerras por causa da escassez de comida e água, e por fim, a mortandade e o regresso histórico. É esse o cenário que os cientistas apregoam, e como profetas modernos, seguem ignorados pela multidão inflamada que só quer obter prazer e consumir tudo o que pode, sem se preocupar com os próprios filhos que estão a caminho.
A mensagem de alerta da ciência cobra posicionamentos diários. Desligar os interruptores quando se sai do ambiente, poupar água, selecionar o lixo, consumir menos já deveriam ser comportamentos interiorizados em nosso povo. Infelizmente, ainda são hábitos a serem adquiridos, mas não há tempo a perder e é preciso exigir de nossos governantes, de quem administra as cidades, o estado e o país, que assumam o compromisso sério e grave de trabalhar pelo meio ambiente e pela sustentabilidade no Brasil.
Na hora do voto o eleitor atento e responsável precisa exigir do candidato o compromisso com políticas públicas que garantam menores taxas de emissão de CO2, tratamento seletivo do lixo, despoluição de rios e preservação dos mananciais, programas de educação ambiental nas escolas, políticas públicas de incentivo a participação popular no tema e nas práticas.
Que o calor que fadiga sirva para incendiar nosso desejo de mudança e nossa consciência de que o mundo é nosso, e por isso, somos nós que devemos cuidar dele.
César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br