Integrantes do governo da Turquia afirmaram nesta quinta-feira que não têm interesse em entrar em guerra contra a Síria, apesar da permissão concedida na quarta (3), pelo Parlamento, para conduzir uma ação militar em represália ao bombardeio de uma cidade turca fronteiriça.
O assessor internacional do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, Ibrahim Kalin, foi quem minimizou a chance de conflito.
“A Turquia é capaz de proteger suas fronteiras e retaliará quando necessário. As iniciativas políticas e diplomáticas [para resolver a crise na Síria] continuarão”, disse, em mensagens no microblog Twitter.
Pouco após a votação, o vice-premiê, Besir Atalay, insistiu que a prioridade dos turcos são as ações em coordenação com a comunidade internacional e disse que a medida aprovada pelo Parlamento foi feita em caráter preventivo.
“Esse governo não é para fazer uma guerra, mas [a medida] está nas nossas mãos para ser usada a fim de proteger os interesses turcos”.
De acordo com a emissora de TV britânica BBC, não há apetite em nenhum dos dois lados para uma guerra, assim como entre os membros da Otan e países ocidentais.
O governo turco também enfrentaria a oposição da população do país. Durante a votação que autorizou o envio de tropas, centenas de pessoas faziam um protesto na porta do Parlamento.
Centenas de manifestantes ficaram na porta da casa legislativa pedindo que a medida de intervenção não fosse aprovada. Houve confronto com a polícia, que reprimiu os manifestantes com gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Na rede social Facebook e no microblog Twitter, turcos usaram a hastag #notowar para chamar atenção para a possível intervenção militar.
RETALIAÇÃO
Apesar das declarações contrárias à guerra, o Exército turco fez bombardeios durante a madrugada e a manhã em alvos militares da Síria na região de fronteira.
A ação terminou com a morte de diversos soldados leais ao ditador Bashar Assad, de acordo com o grupo opositor Observatório Sírio de Direitos Humanos, sediado em Londres.
De acordo com a agência de notícias France Presse, os disparos foram interrompidos no início da tarde (manhã em Brasília).
O vice-premiê turco também disse que o regime sírio pediu desculpas na noite de quarta, que, segundo ele, assumiram a responsabilidade pelo incidente na fronteira. O regime de Bashar Assad ainda não fez nenhum comunicado oficial sobre o tema.
O chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, também entrou em contato com integrantes do governo de Damasco e pediu a confirmação do ataque como um acidente. “Eles [os sírios] garantiram que o ocorrido foi uma trágica fatalidade e tomarão todas as medidas para que isso não se repita”.
Ele ainda pediu que as autoridades dos dois países mantenham um contato direto para discutir a situação dos refugiados e os confrontos da fronteira. Lavrov ainda reconheceu que o conflito sírio “começou a cruzar as fronteiras do país”.
VOTAÇÃO
O pedido foi feito pelo governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan com a justificativa de que o ataque é uma séria ameaça à segurança nacional.O Parlamento da Turquia autorizou o Exército do país a fazer operações militares contra a Síria durante o prazo de um ano. A decisão foi aprovada com 320 votos a favor e 129 contra, sendo a maioria dos votos favoráveis do governista Justiça e Desenvolvimento (AKP, sigla em turco).
O episódio de quarta-feira não foi um evento isolado. Na sexta-feira passada, outra bomba danificou prédios residenciais e comerciais, também em Akçakale.
Em junho, a defesa antiaérea síria derrubou um avião de combate turco, levando a Turquia a reforçar seu dispositivo militar na fronteira.
A duração do conflito na Síria já havia desgastado as relações habitualmente amigáveis entre os dois países. Após ataques do regime de Bashar Assad à população civil, o governo turco se uniu aos críticos do regime sírio.
O país também abriga mais de 90 mil refugiados do país vizinho, mas teme muitos mais atravessem a fronteira, sem uma solução para o confronto sírio no curto prazo.
Fonte: Folha