A ex-namorada de Bruno, Fernanda Castro, acusada de sequestro e cárcere privado de Eliza Samudio, disse no interrogatório de seu julgamento que só soube do assassinato de Eliza ontem, depois das declarações de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, ao júri.
“Só tive certeza de que Eliza foi executada ontem, pelas declarações do Luiz Henrique”, disse.
Ela não estava mais no plenário na madrugada desta quinta-feira, quando Macarrão afirmou que levou Eliza para morrer a mando de Bruno.
Fernanda disse ter tomado conhecimento do assassinato pela imprensa, após a juíza Marixa Rodrigues questioná-la sobre a morte de Eliza.
Ela também falou da relação de Eliza com o bebê. “Eliza comentou já ter feito muita coisa errada, inclusive o filme pornô, mas que a partir do filho que teve ela queria mudar de vida”, disse, e acrescentou: “O filho passou a ser a vida dela”.
DEPOIMENTO
Durante o depoimento de Fernanda, que durou três horas e quarenta minutos, a ré afirmou não saber por que estava sendo julgada. A defesa da Fernanda sustenta que Eliza não estava sequestrada.
Ela namorava o jogador quando o crime ocorreu. Durante o interrogatório, Fernanda contou uma versão parecida com a dada ontem por Macarrão, quando ele disse que Fernanda foi até a casa do goleiro para ajudar a cuidar do bebê de Eliza e não deixar o então adolescente Jorge Luís Rosa (primo de Bruno) sozinho com ela, já que eles haviam discutido.
Na noite daquele dia 4 de junho de 2010, Jorge teria agredido Eliza com uma cotovelada, segundo Macarrão –a denúncia diz ter sido coronhadas.
“O Macarrão me ligou, estava um pouco nervoso e pediu que eu fosse lá”, disse Fernanda, que chegou na casa de Bruno, no Rio, e recebeu de Macarrão o bebê para cuidar sem ter visto Eliza naquela noite.
A promotoria, no entanto, questionou a existência da ligação que Macarrão fez a ré, pois ela não aparece nas quebras de sigilos telefônicos feitos.
Fernanda afirmou, então, não saber o porquê da ligaçãonão aparecer na relação das chamadas. “Eu posso garantir, dou a minha palavra que essa ligação existiu. Até questionei a minha advogada sobre isso”, disse.
No depoimento, ela contou que naquele dia cuidou da criança durante toda a noite e só devolveu o bebê à mãe no dia seguinte, quando as duas foram apresentadas na sala da casa, onde estavam também Macarrão e Jorge.
“Eu coloquei o neném no colo dela, no sofá, e saí para fazer a mamadeira. Quando voltei, ela pediu que eu desse a mamadeira”, disse.
No final daquele outro dia, ela e Bruno seguiram em um carro para Minas. “Eu fui convidada para ir conhecer a família do Bruno”, disse. Macarrão, Eliza e o bebê teriam ido com outro carro.
Fernanda também mantém a versão de Macarrão, de que todos dormiram em um motel na região metropolitana de Belo Horizonte –ela e Bruno em um quarto, e os demais em outro quarto–, até a ida ao jogo de futebol do time, na tarde de domingo.
Ela disse que Eliza foi assistir ao jogo do time amador de Bruno na arquibancada, distante dela. “No intervalo, o Bruno pegou Bruninho e levou ao vestiário”, disse.
Após o jogo, Eliza teria ido com Macarrão para o sítio de Bruno, em Esmeraldas (MG). Já ela e Bruno foram a um bar, onde ficaram até 1h da segunda-feira.
A ré disse que passou apenas cerca de oito horas no sítio de Bruno. Ela saiu do bar e foi até o sítio, onde foi chamada por volta das 9h por Macarrão para retornar para o Rio. “Foi a única vez que fui ao sítio”, afirmou.
JULGAMENTO
O julgamento começou com cinco réus –o goleiro Bruno, seu ex-secretário Luiz Henrique Romão, o Macarrão, o ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, a ex-mulher de Bruno, Dayanne Souza, e a ex-namorada Fernanda Castro–, mas foi reduzido para dois. Todos são acusados da morte e desaparecimento de Eliza Samudio, em junho de 2010.
Bola foi excluído do júri logo no primeiro dia para apresentar novos advogados após a desistência de seus dois defensores, Ércio Quaresma e Zanone Oliveira.
No segundo dia de julgamento, Bruno dispensou o advogado, Rui Pimenta, de sua defesa.
A tentativa do goleiro de destituir também seu advogado, Francisco Simim, culminou no desmembramento do julgamento da ex-mulher de Bruno, Dayanne.
No terceiro dia de julgamento a defesa do goleiro usaram um dispositivo legal para desmembrar a julgamento de Bruno, transferindo os poderes de defender o réu. Francisco Simin, dessa forma, passou o caso para Lúcio Rodolfo da Silva, que pediu um prazo para ler o processo. O novo julgamento está previsto para ocorrer dia 4 de março de 2013.
Segundo Fernanda, Eliza foi junto, mas em outro carro, com Macarrão, Jorge e o bebê.
Antes de Fernanda Gomes, 25, foram ouvidas oito testemunhas até a madrugada desta quinta-feira. Em depoimento o ex-motorista de Bruno, Cleiton da Silva Gonçalves, confirmou ter ouvido Sérgio Rosa Sales, primo do goleiro, dizer que Eliza “já era” e que seu corpo havia sido jogado para cães.
A delegada Ana Maria Santos, que trabalhou na investigação, revelou no segundo dia do julgamento detalhes do depoimento do primo Bruno, Jorge Luiz Rosa, dado à polícia em 2010. Segundo Rosa, Eliza foi amarrada e chutada antes de ser morta.
A testemunha de acusação, Jaílson Alves de Oliveira, confirmou ter ouvido Bola confessar que teria matado Eliza. Ele também afirmou que foi ameaçado pelo goleiro Bruno.
Ontem, a mãe de Eliza e um amigo de Macarrão foram ouvidos pelo júri.
De tarde, dois vídeos com os depoimentos do caseiro José Roberto Machado, que trabalhou no sítio de Bruno, e de sua mulher, Gilda Maria Alves, foram passados. Eles substituíram as testemunhas dispensadas pela defesa de Fernanda, que foram flagradas falando ao celular no hotel onde estão hospedadas.
Fonte: Folha