Fui jogador de basquete e talvez por isso minha alegria ao acompanhar a partida que garantiu a vaga na olímpiada para a seleção brasileira tenha sido grande. Imagino que os grandes atletas do esporte em Goiás, também se emocionaram. Cesar Sebba, a quem considero o maior atleta goiano no basquete, Felipão, Jomar, Bolinha e tantos outros que se destacaram em quadra devem ter, como eu, vibrado com os acertos dos jovens talentosos que ainda prometem fazer bonito com o nome do Brasil.

A conquista representa uma compensação histórica. Há 16 anos o Brasil estava fora das Olimpíadas e isso sempre foi uma injustiça para com a tradição do esporte que já marcou história. Temos nomes que brilham na galeria dos atletas mundiais. Ubiratan, Oscar Schmidt, Hortência, Paula, Janet e, atualmente, Kely da Silva e Varejão são talentos que merecem reconhecimento sempre.

Apesar do Basquete promover alguns destaques, os grandes nomes só surgem em grandes equipes. Isso porque mais do que no futebol, a coletividade em quadra é fundamental. Ninguém faz uma partida sozinho, ninguém se torna “cestinha” se não tiver uma boa defesa, um bom armador, um suporte dos colegas para garantir do rebote à arrancada, a assistência e a marcação.

O jogo equilibrado contra a República Dominicana foi uma ilustração perfeita do que é trabalho em equipe. Mesmo porque, no Basquete, o conceito de “equipe” é maximizado. Não existe essa distinção pejorativa de titulares e reservas. Em 40 minutos de corre-corre, de agilidade, de jogo, todos entram em quadra. Todo o elenco participa e tem chance de contribuir para o resultado. Um reserva que não esteja “ligado”, “aceso”, pode comprometer o saldo. Toda a comissão técnica, auxiliares, todos os integrantes da equipe são acionados o tempo todo e precisam estar envolvidos, motivados, valorizados, reconhecidos pra que o grupo prevaleça.

É bonito demais ver o trabalho em equipe funcionando. É bonito demais ver o jogador atento ao desenvolvimento do outro, e abrindo mão de avançar ao garrafão estando marcado para ceder a honra de pontuar ao colega em melhor posição. É bonito ver o espírito de coletividade e a visão da vitória sobrepujar qualquer vaidade pessoal, qualquer individualismo.

O basquete deveria ser um exemplo em muitos aspectos da vida e principalmente para os partidos políticos. Nesse momento em que os grupos partidários se organizam para uma disputa eleitoral, os princípios de coletividade deveriam nortear a caminhada em busca do objetivo.

Contemplar o cenário político é localizar nomes que se destacam e nomes que ambicionam ocupar vagas que ainda não lhes servem. Talentos promissores, gente que poderia fazer diferença, nem sempre encontra respaldo vindo daqueles que já há muito tempo estão acomodados nas janelas de visibilidade. As agremiações perdem ao não valorizarem à equipe, as potencialidades distribuídas entre os integrantes, ao deixarem de reconhecer que a força está no arranjo equilibrado de nomes e personalidades.

Assim como no esporte, na política o tom de coletividade ou de individualismo vem do líder, do cabeça que é quem deve dar o exemplo de confiança, distribuindo as tarefas, valorizando aqueles que se esforçam, que se dedicam. Não deveria haver em grupos que se destinam às grandes conquistas tanto afastamento entre os considerados titulares e os reservas. Mesmo porque, há funções e atributos que nem todos tem. O líder sábio é aquele que sabe identificar os pontos fortes de cada aliado e acioná-los no momento exato, administrando as reações opositoras à sua escolha, minimizando os efeitos do individualismo e fortalecendo a visão do coletivo, da equipe.

Claro que isso não é tarefa fácil. Há 16 anos o basquete brasileiro tentou chegar à principal competição esportiva do planeta, mas demoramos quase duas décadas pra encontrar o afinamento necessário à conquista. Na política, da mesma forma, é preciso sofrer grandes derrotas até encontrar o rumo, mas podemos sempre constatar que são vitoriosos os partidos que traçam planos, distribuem bem seus quadros, valorizam suas bases, estimulam seus agremiados, mobilizam, promovem o crescimento, o envolvimento, e investem em seus componentes sem distinção. São vitoriosos aqueles que traçam metas e enfrentam os contratempos sem abandonar seus princípios e sem deixar seduzir pelas decisões norteadas por conchavos ou politiquices. A equipe vitoriosa é aquela em que há envolvimento de todos e comprometimento de todos com o bom resultado. A glória de quem faz parte de uma equipe assim é comemorar com o colega, com o companheiro a vitória alcançada e não superestimar-se como responsável isolado por qualquer que seja o bônus.

Os partidos políticos tem muito o que aprender com o esporte e enquanto o individualismo e a concentração de poder prevaler contra o bom-senso e a prática de equipe muitas legendas se verão minguando e perdendo adeptos e pior- vão se ver fora do jogo.

César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

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