Se existe um valor pelo que vale a pena lutar é a Liberdade. Em todas as áreas da vida, saudável e feliz é aquele que se sente livre, em que condição estiver. Boa parte das mortes emblemáticas da história e dos grandes feitos da humanidade se deram pelo desejo de liberdade que é inata no homem.
Claro que a liberdade irrestrita nem sempre é possível, mas a de pensamento e de expressão considero bens primordiais. A ditadura é tão abominável justamente por censurar esses dois direitos essências. Liberdade para destoar de pensamento e para manifestá-lo são bens intocáveis.
O desenvolvimento de qualquer sociedade, principalmente daquelas que se ambicionam democráticas, passa pela valorização de sua imprensa, pela valorização da transparência de atos públicos e do envolvimento da população em geral no debate do que acontece na nação. A imprensa, por sua vez, deve admitir a pluralidade de pensamentos e se pautar sempre pela diversidade de pontos de vistas e compreensões do momento histórico. É assim que se constrói uma realidade melhor.
Penso que uma imprensa livre é o pulmão da democracia. Qualquer estrangulamento que a livre imprensa sofra acarreta numa democracia ineficiente, fragilizada. Manter a democracia vicejante depende do exercício constante, do aprimoramento dos setores que informam a sociedade e que, sempre vigilantes, permitem o arejamento dos recônditos do poder.
A repreênsão, a censura prévia, querer debelar opiniões mantendo-as caladas ou o silenciamento pelo suborno, pela propina, são atitudes criminosas para com o processo democrático. Impedir que a imprensa e que o jornalistas tenham liberdade para trabalhar, na minha opinião é a mesma coisa que sufocar a sociedade. A primeira consequência se reflete no coração do regime: apodrecerá.
Claro que a imprensa não acerta sempre e isso é óbvio. Quem faz o jornalismo são os jornalistas, gente movida por paixão, por preferências, pessoas que analisam o mundo mediante suas próprias experiências e que erram, hora ou outra. Agora, não é por que desliza que um jornalista merece ser enxovalhado, não é porque erra que a imprensa perde o mérito de inúmeros acertos. O movimento de acertar, errar, ser contraditada, ser contraditória é que bombeia ar limpo para as veias de um sistema que não pode funcionar em silêncio.
Faço parte da direção de uma rede de empresas de comunicação e sempre me orientei pela convicção de que os profissionais que trabalham comigo são dotados de conhecimento, inteligência e opinião crítica. Estes são credenciais que valorizo e todos são estimulados a desenvolvê-las. Na maioria das vezes, não concordo com o resultado a que meus colaboradores chegam, não assinaria em baixo de boa parte de suas declarações e posicionamentos expressos em redes sociais ou na vida pessoal, mas jamais me verei coibindo-lhes ao silêncio. Quem trabalha comigo sabe que exerço o que prego, que pratico o que defendo e que defendo sempre e acima de tudo que as pessoas encontrem liberdade para serem quem são.
Acredito que esse deveria ser a postura de qualquer veículo, a despeito de qualquer posicionamento político adotado pela empresa. Uma coisa é a postura institucional assumida, que também deve ser clara para que o telespectador, leitor, cliente que se serve daquela informação não seja enganado, outro e bem diferente é o pensamento individual do jornalista – por este, apenas que o emite deve ser responsável, seja pelos bônus como pelos ônus.
Um veículo de comunicação cresce e amadurece à medida que aprende abrigar a diversidade de visões e opiniões em seus quadros e isso só acontece se os comunicadores encontram um ambiente de liberdade. Eu posso não concordar com o jornalista que presta serviços pra mim, mas jamais lhe colocarei uma mordaça.
Meu respeito pelos profissionais de imprensa e minha concepção de que a liberdade de expressão deve ser defendida sempre não advém de uma relação terna e harmoniosa com os formadores formais de opinião. Por meio dos jornais já sofri duros golpes, já fui difamado, caluniado, injustiçado sem chances iguais de defesa. Já atentaram contra a verdade a meu respeito, já me prejudicaram emitindo opiniões que não se fundamentavam na realidade, enfim, erraram comigo e não poucas vezes.
Em situações como as por que passei é que conhecemos a vantagem de uma democracia saudável. Bem arejado, o sistema democrático se vale de uma justiça que funciona e que, equilibrada, pode corrigir os excessos de uma respiração mais ofegante e descompensada. Quando a imprensa se excede, o caminho é o judiciário, mas lembremos que ele também só não cederá aos delírios do poder se estiver oxigenado pelo ar transparente da liberdade plena.
César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br
Muito bom o artigo do apóstolo. Sou estudante de comunicação e fico feliz em saber que ainda existem empresários na área que valorizam a liberdade de pensamento e de expressão do jornalista.