Um dos destaques do discurso de posse da presidenta Dilma Rousseff foi sua predisposição de valorizar e respeitar a liberdade e o papel da imprensa. A entrevista exclusiva dada à Revista Veja, veículo assumidamente opositor ao governo é uma prova de que o posicionamento não foi mera retórica, mas um projeto de governo que ilustra a maturidade de nossa presidenta.

Foram duas horas de entrevista que resultaram em dez páginas de muita informação aos brasileiros. O conteúdo também é uma demonstração clara de que Dilma quer manter as portas do governo abertas á fiscalização do povo e da imprensa.

Dilma falou de tudo, com muita tranqüilidade, segundo o testemunho do próprio entrevistador, postura de quem não tem nada a esconder e de quem quer garantir segurança a investidores e trabalhadores. Ao ceder a entrevista á Veja, Dilma objetivou emitir sua mensagem aos brasileiros mais hostis ao governo petista, aqueles que assinam a publicação para ler a crítica ao programa que está sendo implementado. Nesta coluna quero destacar alguns pontos que precisam ser enfatizados entre todos os brasileiros, mesmo os que passam longe da Veja.

Não há crise quando um governo perde a votação no Congresso. O nome disso é democracia. Parlamento nenhum existe apenas para validar decisões executivas. Mesmo parlamentares da situação podem discordar do governo sem que este governo esteja em crise. O de Dilma, por exemplo, está sendo cada vez mais aprovado pelo Brasileiro justamente por agir com respeito ás instituições. A presidenta tem assegurado o exercício pleno do parlamento e contribuído para que discussões importantes sejam tratadas com respeito ás representatividades da opinião do povo. Isso significa que o executivo não tem comprado votos.

 Ser derrotado numa votação também explicita o comprometimento com a ética e com a ruptura do tradicional e refutável toma-lá-dá-cá. Uma derrota numa votação não significa nada perto da contribuição inestimável que é o esforço por implantar uma nova relação entre Congresso e Planalto. Dilma demonstra entender e ambicionar ver fortalecido o espírito republicano no Brasil.

Não é desonesto brigar por um jogo mais equilibrado quando o assunto é comércio exterior. Os países europeus em crise só estão passando aperto agora porque não fizeram os sacrifícios fiscais que o Brasil fez. Dilma mais uma vez acerta ao ser assertiva frente aos líderes que um dia criticaram uma política econômica imediatista e que agora, em apuros, querem recorrer ás práticas irresponsáveis. A economia mundial é muito mais vulnerável hoje que no início do século XX.

  Fabricar dinheiro é mentir para o mercado, é prorrogar sacrifícios e ampliar a esfera de fragilidade. O Brasil está no momento de colher os bons frutos plantados e a firmeza de Dilma é justamente para garantir a seara. Estamos sim na posição de fazer exigências e não há porque ceder a um complexo de inferioridade e subserviência diante dos países que se desenvolveram e que querem impedir que outras nações vivam o mesmo.

Não se deve mais protelar as reformas no Brasil, principalmente a tributária. A presidenta sabe disso e tem tratado do assunto com os empresários. Ela não diria que fará isso se já não houvesse uma ideia do que fazer e de como. É um alento ao empresariado, ministrado na hora certa. O empreendedor sempre precisa de esperança para manter-se animado e investindo e ouvir isso da chefe do governo ajuda a manter alto o índice de confiança e o crescimento por consequência.

Enquanto nos países parlamentaristas o trabalho técnico de governar é do primeiro ministro, e ao presidente cabe zelar pela referência moral, no presidencialismo os dois papéis são do presidente. Dilma tem total entendimento de que também é sua missão ser exemplo. Exemplo de lisura e de defesa de valores éticos não somente para outros governantes como prefeitos e governadores, mas para cada brasileiro.

Ao demonstrar o respeito e carinho que nutre por Lula, mas também a consciência de que é sua vez de marcar a história, ela transmite o recado de que estamos em processo de aperfeiçoamento. O passado precisa ser revisitado, mas não pode servir de lar. O que o governo passado conquistou é celebrado com justiça, o que este conquistará precisa ser perseguido todos os dias com coragem, principalmente a de não fugir dos críticos e a de colocar projetos em debate na sociedade. A entrevista só demonstra que coragem não vai faltar.

 César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

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