A democracia se sustenta no equilíbrio de forças. Se uma vertente ideológica assume o poder, as demais vertentes precisam se reajustar para manter a possibilidade de alternância. Quando uma força política não encontra resistência não significa que ela se tornou unânime na vontade da população, significa apenas que seus adversários são fracos.

A saúde de um governo democrático está na diversidade de ideias se contrapondo, está no embate ideológico, no confronto de visões e posições políticas. Ao eleger um governo, imediatamente a população escolhe também os que figurarão na oposição e confia a eles a responsabilidade fiscalizatória  e o dever de apontar os pontos fracos do executivo. 

Isto posto, pergunto-me: onde está a oposição ao governo federal?

Parece que a popularidade da presidente, o seu discurso ético e suas posições corajosas no combate à corrupção estão intimidando os parlamentares que deveriam ser oposição. Ouve-se deles mais elogios que cobranças. A impressão que se tem é de que, aqueles que já foram adversários do grupo que está no governo preferem ver o que vai ser no futuro e não arriscam agora a duelar com quem o povo aprova. 

Sou um entusiasta do governo Dilma mas reconheço que essa não é uma situação agradável para o povo brasileiro. Não ter oposição não é democrático. Uma oposição omissa possibilita a alguns quadros mal intencionados do governo relaxarem e cometerem abusos. Precisamos admitir que mal intencionados estão por toda parte.

Vamos analisar o comportamento da forças oposicionistas que existem no Brasil.

As principais denúncias contra o governo vieram do trabalho da imprensa. Na maioria das vezes, as denúncias partiram  da revista VEJA. Acontece que a publicação já tem uma fama de ser contra o PT e o governo, já se sabia, seria sempre alvo das investigações. Algumas denúncias causaram rebuliço em Brasília, principalmente as que receberam o eco das organizações Globo. Alguns flagrantes que mexeram com a opinião pública provocaram substituições, mas apenas alguns. A grande maioria das denúncias da Veja se apresentaram desgastadas e sem fundamento que as respaldasse. Soaram apenas como implicância e vão enfraquecendo a voz oposicionista. De tanto chiar sem fortalecer ou assumir o peso de oposição, esse tipo de atitude torna-se um irritante alarido sem ganhar significado.

Os partidos e parlamentares que deveriam agir como uma oposição articulada, embasada e alicerçada no compromisso de fiscalizar e apontar as falhas do governo mostram-se desnorteados,    desligados da tarefa, simplesmente enfraquecidos ou mesmo seduzidos pela chance de, veja só, integrar o governo que deveriam vigiar mais arduamente.

Acompanhando o cenário político, meus olhos se detém numa exceção: o nosso Senador goiano Demóstenes Torres.

Demóstenes tem sido ao mesmo tempo a voz lúcida e mais eloquente do Senado. Existem outras vozes lúcidas, eu acredito, mas não se fazem ouvir assim como existem vozes a gritar futilidades. Demóstenes contraria e se levanta para ser oposição verdadeira, do tipo útil e fundamental para todos os brasileiros.  

Se existe um homem que é levado a sério na oposição ao governo federal, este é Demóstenes Torres porque é coerente. Sozinho, o goiano tem alertado a sociedade para movimentos governamentais que não são bem vistos pela opinião pública. O trabalho de refutar o ressurgimento da CPMF pode ser dado com exemplo nesse caso. A marca do nosso Senador é apontar caminhos alternativos — sempre melhores— e não simplesmente criticar por criticar. 

Sem exageros, posso dizer que é o discurso de Demóstenes que tem pautado toda a discussão no congresso e o Brasil reconhece isso.  Mas não deveria ser assim. A oposição na democracia não pode depender de um único nome porque é feita de votos. 

Demóstenes precisava de companhia, mas aqueles que seriam potenciais companheiros revelaram-se frustrações. Cito o ex-governador mineiro Aécio Neves. Aécio tinha tudo para se destacar no Congresso, tinha tudo para ser uma voz vibrante e com apelo e apoio político para exercer uma mandato pró ativo. No entanto, o mineiro deixou-se sufocar por escândalos pessoais e emudeceu. Aécio perde a chance de levantar-se como um líder nacional com capital político para voos mais altos. 

Onde estão as outras vozes? Onde está a oposição? Marconi Perillo era outra voz que fazia diferença. Saiu para ser nosso governador, fez bem ao estado mas faz falta ao país. 

As baixas na oposição causam um prejuízo sério. Sem um equilíbrio entre as forças, sem uma oposição substancial, que se equipare com a situação, a democracia desfigura-se, desvirtua-se e pode adoecer.

 César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM.

 E-mail apostolo@fontedavida.com.br

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