Monica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina

Buenos Aires – Os estudantes chilenos entregaram ontem (13) uma contraproposta ao Ministério da Educação para negociar com o governo uma reforma no ensino e colocar um fim a quatro meses de protestos. Eles querem que as autoridades congelem os projetos de lei enviados ao Congresso, por considerá-los uma ação unilateral; que as discussões sejam públicas; e que a educação seja gratuita para pelo menos 60% dos estudantes sem condições de pagar os estudos. Eles também reivindicam a manutenção das bolsas de estudo e dos créditos estudantis.

Depois de uma reunião dos estudantes com o presidente Sebastián Piñera, no último dia 5 de setembro, o Ministério da Educação propôs criar três grupos de trabalho para encontrar uma solução para o problema até o fim do mês. Ao mesmo tempo, ameaçou cortar as bolsas de estudo e os créditos estudantis caso os alunos não voltem às aulas e não terminem o primeiro semestre acadêmico no dia 7 de outubro.

Os protestos dos estudantes são porque, no Chile, tanto as universidades públicas, como as privadas são pagas. Quem não pode pagar, pode pedir uma bolsa (se tiver boas notas) ou créditos em um banco – alguns deles, com aval do Estado. Mas os universitários reclamam que os juros são altos e, como consequência, começam suas carreiras profissionais com dívidas que demoram dez anos para serem pagas.

Os manifestantes também exigem o fim do lucro na educação. Uma lei do país prevê que nenhuma universidade pode ter fins lucrativos, apesar do porta-voz do governo, Andrés Chadwick, reconhecer que muitos donos de universidade são também donos de imobiliárias e disfarçam o lucro alugando seus imóveis aos seus institutos educativos. “Foi uma prática tolerada por todos os governos porque, ao mesmo tempo, víamos que, com a abertura de novas universidades, o número de alunos passou de 350 mil a 1,1 milhão”, disse. Mas o governo está disposto a aumentar a fiscalização para garantir o cumprimento da lei.

Para o líder estudantil Camilo Ballesteros, o problema do sistema de ensino no Chile deve-se ao modelo de escolas existentes: a escola pública, que é gratuita, mas financiada pelos municípios, muitos deles sem recursos; a escola “mista”, que é privada, mas recebe subsídios do governo; e a escola totalmente privada . “O governo poderia usar esses recursos para financiar as escolas públicas, em vez de entrega-las aos particulares que, muitas vezes não usam o dinheiro para melhorar a educação”, disse Ballesteros à Agência Brasil. “Se o dono de uma escola pode ganhar mais contratando um professor para cada 40 alunos, por que vai contratar um professor para cada 20 alunos?”, completou.

Para o economista Marcel Claude, o sistema de ensino chileno “é perverso”. Segundo ele, quem acaba financiando as escolas públicas mistas “são os mesmos trabalhadores chilenos que não têm como pagar uma escola privada para os filhos, mas pagam impostos”. Segundo ele, a única maneira de reformar a educação é fazendo uma reforma tributária. “A carga tributária no Chile é 19% do Produto Interno Bruto (PIB), quase a metade da carga tributária dos países desenvolvidos”, declarou. “E no Chile as grandes empresas não pagam lucros. O que o a empresa paga é devolvido ao dono da empresa, na hora em que ele faz seu imposto de renda”.

fonte: agência brasil

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