Comemorar datas, para mim sempre é um momento de reflexão. No dia dos pais não é diferente. Se você teve um dia de homenagens, de cumprimentos, de festa, certamente conquistou de alguém de quem cuida e a quem ama, reconhecimento e afeto. Como traço da paternidade, vale ir além do agradecimento pela lembrança e fazer uma auto-avaliação do que tem sido feito por nossos filhos, por aqueles que dependem de nós e que serão a perpetuação de nossos valores e preceitos, geração após geração.
 Temos visto nossa sociedade em crise. As mazelas como o aumento da violência, o avanço poderoso das drogas sobre a juventude, a depressão arrasando vidas, a falta de respeito às leis e  as autoridades podem ser incontroláveis se a meta é o combate isolado desses fatores, mas existe uma semente da qual penso que tudo se origina e ela está plantada nos lares.
 Falta paternidade. Faltam homens que assumam a responsabilidade pela continuação de seus  princípios. A raiz dos problemas que enfrentamos vem da omissão de homens em chefiar suas casas, em abrir mão de seus interesses e de seu egoísmo para viver uma missão de formar outros homens baseados na integridade, na honra, na compaixão.
 Somos seres que aprendem com o exemplo de quem admiramos. Filhos que vêem seus pais desistindo do matrimônio e da família, seja por não administrar os conflitos, seja por outra paixão, aprendem claramente que as outras coisas valem mais que o lar, valem mais que a família. Filhos que veem homens abrindo mão do tempo de convivência com sua prole apenas para ganhar dinheiro, ou para inflar a própria carreira, assimilam que suas vidas valem menos que o patrimônio, desenvolvem uma auto-estima tímida e uma percepção de que o que importa é o ganho desmedido. Filhos que crescem sem seus pais, crescem perdidos, sem orientação, sem uma voz que aponte rumos, que norteie, que dê direção.
 As pesquisas apontam claramente que a estrutura familiar mudou e a principal diferença entre o novo e o tradicional é a ausência paterna no lar.  As mulheres engravidam e é como se o fizessem sozinhas. Os pais, os progenitores tornam-se meros expectadores. Numa das hipóteses menos agressivas ficam à distância observando sem tomar parte, sem participar. Há os que desaparecem só deixando dúvidas, insegurança e incertezas e há os que ficam para abusar, transtornar, destruir o que era sua obrigação proteger.
 Reconhecemos e exaltamos os exemplos daquelas mulheres que esforçaram-se por acumular função na criação de seus filhos. Tantas partem para a tarefa tão pesada que é assegurar o sustento da casa, com mais de um emprego, para arrecadar dinheiro que viria mais fácil se a paternidade de fato existisse. Mulheres que suprem suas casas, que se desdobram para tentar levar aos filhos a educação que desejam. No entanto, sozinhas muitas não conseguem sucesso. Não conseguem sozinhas conter nos braços e no caminho seus filhos ao irromper da juventude e da rebeldia. A falta da paternidade efetiva pode explicar porque tantos meninos e meninas partem para a droga, se destroem no vício, mesmo sendo bem criados, mesmo sendo filhos de mulheres trabalhadoras, atentas, zelosas. Não existe proteção forte o bastante se não estiver amparada pela relação integrada, efetiva, atuante entre materno e paterno.
 A sociedade precisa de pais, mas não do tipo que não se envolve. Não precisamos de pai para abastecer as casas de recursos materiais e patrimoniais. Não precisamos de pai para o castigo, para impetrar a pena física, não precisamos de pai para ser o severo, o autoritário, o impositor de limites. O pai de que a sociedade sente falta é o sábio, é aquele que para a mesma dose de serenidade encontra outra de firmeza ao ensinar seus filhos o quanto os deveres e a honra são sequências a serem seguidas dia a dia para o alcance da realização.
 O pai de que a sociedade sente falta é aquele que não parte de casa à primeira crise romântica com a esposa, mas é o homem forte ao conter suas emoções, forte ao ponderar o efeito de suas escolhas, forte para responder aos efeitos de suas escolhas com responsabilidade. O pai de que a sociedade sente falta é aquele que demonstra com clareza que as fases ruins passam, que se pode suportá-las com a visão firme no horizonte que promete novos amanhãs. É isso que gera firmeza de alma em seus filhos, que os prepara para a vida sem a necessidade de subterfúgios.
 O pai que faz falta às famílias é aquele que se sacrifica, que acorda interrompendo o sono para atender ao choro de seu filhinho sem fugir dessa responsabilidade sabendo que a mãe o fará mesmo. É aquele que investe sua alma na proteção e no direcionamento de sua criança, que prefere deixar o reconhecimento envaidecedor na carreira para lá, para mais tarde, para acompanhar de perto a vida de seu filho.
 O pai que a sociedade deseja é aquele com coragem o suficiente para dizer “não”, para tomar pelo braço, para enfrentar os gritos e a revolta, para impor o correto com firmeza mas com o amor patente.
 A sociedade não pode exigir isso das mulheres, elas já se doam completamente na maioria das vezes. Na maioria das vezes, as mulheres estão definhando por carregar sozinha e o tempo todo o peso das duas funções.  A falta que sentimos é do pai, do homem que não se omite mas que se apresenta mesmo sem ter tanta certeza do que fazer.
 Onde estão esses homens? Onde estão os homens que entendem seu papel na recuperação de uma sociedade adoecida? Onde estão os homens que arregaçam as mangas, envolvem-se e não desistem antes de completar o projeto a que se lançaram? Se tais homens são importantes nas empresas, se são importantes na política,  é nos lares que devem surgir  porque neles são imprescindíveis.

 César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

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