Às vésperas de subir ao palco do Theatro São Pedro, em Porto Alegre, para o início de uma curta temporada da peça Viver sem Tempos Mortos, que começa nesta quinta-feira, 11, a atriz carioca Fernanda Montenegro veio à serra gaúcha na noite desta terça-feira, dia 9, para receber o prêmio Oscarito do 39º Festival de Gramado. Batizado com o nome do grande astro das chanchadas brasileiras, subgênero que teve seu apogeu nos anos 50, o troféu, destinado a personalidades do cinema nacional, foi entregue pelo diretor Roberto Farias.

“Fui assistente de direção de vários filmes do Oscarito. Então esta homenagem à Fernanda me emociona muito também”, lembrou Farias, autor de filmes como Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa (1968) e Pra Frente, Brasil (1982), no palco do Palácio dos Festivais. “É verdade, eu já havia me esquecido disso. Lembro de ter feito um teste para uma chanchada, mas não passei. Ninguém me viu no cinema naquela época, mas hoje a vida nos reuniu novamente aqui em Gramado”, disse a atriz de 81 anos.

Atriz de rádio, teatro, televisão e cinema, área em que começou a atuar ainda nos anos 1960, a partir de A Falecida (1965), de Leon Hirszman, Fernanda falou sobre seu fascínio por filmes, que a acompanha desde muito jovem. “Lembro de ir à Praça Tiradentes para ver as chanchadas com o Oscarito, numa época em que o gênero ainda era visto com muito preconceito pelos intelectuais. São experiências inesquecíveis de uma então jovem cinemeira, que ia ao cinema pelo menos três vezes por semana. Então, estar aqui hoje recebendo esse prêmio é uma honra, porque foi em função da minha paixão pelo cinema, por Hollywood, que cheguei ao teatro”, afirmou a atriz, indicada ao Oscar por Central do Brasil (1998), de Walter Salles, em papel que lhe deu o Urso de Prata de melhor intérprete feminina no Festival de Berlim.

Fernanda aproveito o tributo para homenagear a memória do ator Ítalo Rossi, que faleceu na semana passada, com quem fundou, ao lado do marido, Fernando Torres (1929-2008), o Teatro dos Sete. “Ele foi um grande amigo e companheiro de vida, foi a alegria dos melhores anos da vida de todos que conviveram com ele”, comentou a atriz, em tom emocionado. “Este Oscarito vai para o Ítalo”.

A mostra competitiva da noite de terça-feira, 9, foi aberta com a produção chilena La Lección de pintura. O filme de Pablo Perelman fala sobre um menino, filho de uma camponesa solteira, que teria se tornando um grande pintor se não houvesse desaparecido durante o golpe militar de 1973, no Chile. A história é narrada pelo farmacêutico da vila, ele mesmo um apaixonado pela pintura impressionista, que descobre o talento precoce do garoto. “O roteiro foi livremente inspirado num conto do escritor Adolfo Couve”, explicou Perelman. “São 35 páginas fantásticas. Quando o li primeira vez, vi de imediato que daria um filme”.

O programa de longas foi encerrado com o documentário pernambucano As Hiper Mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro. O filme registra os ensaios de uma tribo do Alto Xingu (Mato Grosso) para o jamurikumalu, o maior ritual feminino da região. Tudo começa por iniciativa de um ancião que, temendo que a esposa tenha pouco tempo de vida, pede ao sobrinho organize a cerimônia, para que ela possa cantar com as índias mais uma vez. Mas a única que ainda sabe de cor todas as canções está gravemente doente. O filme é narrado pelos diálogos entre os índios, no dialeto local.

A competição prossegue na noite desta quarta-feira, 10, com a exibição da produção uruguaia O Casamiento, de Aldo Garay, e do brasileiro Olhe Para Mim de Novo, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman. Os vencedores do troféu Kikito serão conhecidos na noite deste sábado, dia 13.

Revista Veja

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