Cada eleição no Brasil se configura em cenário para a próxima. As forças políticas relacionam-se a sinalizar o futuro e a observação amparada pela experiência permitem a quem espia o movimento dos partidos, antecipar o que virá pela frente.

Em 2012, as prefeituras estão em jogo, em primeiro plano, mas o que é construído nesta disputa é o palco para a eleição presidencial, dois anos depois. Todos os partidos se esforçam por crescer nas Câmaras e quiça, eleger prefeitos com altos índices pra abrir espaço para sua participação nas eleições que definem os ocupantes de cargos considerados mais elevados na democracia.

Todo partido almeja o poder executivo, é para isso que eles existem e para isso envidam esforços e recursos. E pela lógica, toda legenda que o topo. Quer o governo do estado, quer assumir a presidência ou, ao menos, compor a coligação que sobe ao poder. Na prática, quanto mais poder, mais poder e influência.

O que estão pode ser destacado dos movimentos deste pleito em que se escolhem os prefeitos em todo o país? Aqueles que conseguirem influenciar, mostrar o poder que detém, saem fortalecidos para confrontar o PT e a presidenta Dilma em 2014.

Como falei na semana passada, há um fator novo e que merece atenção que é a ascensão do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O presidente nacional do PSB está sob holofotes porque tem demonstrado um interessante poder de articulação e uma capacidade notável de aglutinar aliados em torno de seus projetos.

Apesar de não refutar, pelo menos em público, que seu partido é base da presidenta Dilma, Eduardo ousou contrariar o PT e apoiar um candidato próprio para a prefeitura de Recife, contra a candidatura de Humberto Costa, afilhado de Lula na disputa. Para eleger Geraldo Júlio prefeito, Eduardo superou uma disputa histórica e atraiu a aliança de Jarbas Vasconcelos e o PMDB, partido que é o principal parceiro do PT no governo federal e em vários estados, inclusive em Goiás. O resultado é que a preferência de Campos tem acrescentado e muito à campanha peessebista. Embora a pesquisa Datafolha aponte um empate entre os dois candidatos, o fato é que a campanha de Geraldo Júlio arrecadou 4 vezes mais que a de Humberto Costa. Ora, o que é isso se não um termômetro do prestígio dos envolvidos?

Talvez Eduardo Campos só esteja cacifando seu nome para torná-lo indispensável à vice de Dilma Roussef em 2014. Seus discursos conciliatórios nos levam a concluir que ele não quer se distanciar do projeto petista. No entanto, há mais acontecendo em outros estados e é esta conjuntura que definirá o caminho do governador pernambucano.

Em Minas Gerais, o Senador Aécio Neves também dita os acontecimentos eleitorais e em diante da movimentação de Campos, apoia a reeleição do atual prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda que é do PSB. Nesta costura, o tucano pode estar mirando num vice com o poder de aglutinar como é o caso do governardor nordestino, e mais, num vice que desfalca a base aliada da presidente Dilma. Com o apoio de Aécio e Campos, Lacerda lidera em BH e está muito a frente do seu rival, o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Patrus Ananias, que é a escolha de Dilma Rousseff.

A situação é muito clara. Se o preferido de Lula perder em Pernambuco e o preferido de Dilma perder em BH, a oposição sai muito fortalecida e praticamente estabelecida para a disputa em 2014. Os nomes de Aécio Neves e Eduardo Campos direcionam-se para uma costura que poderia despertar até mesmo os interesses de uma ala do PMDB e de outras legendas da sustentação do atual governo.

A única forma de contrabalancear o golpe se daria se o PT levasse a prefeitura de São Paulo. E tanto é verdade que mesmo os petistas mais resistentes à candidatura de Hadad já entenderam o que ela significa e se lançaram na campanha. A ex-prefeita de São Paulo abriu sua participação no twitter declarando total apoio ao companheiro de legenda e isto é emblemático. O PT vencendo em São Paulo, empata no cenário nacional. É a chance de impor algum respeito e segurar os aliados. Caso contrário, poderá presenciar uma debandada nos próximos dois anos e a instabilidade não terá um efeito apenas político, mas pode comprometer a gestão e o projeto do governo para o país.

Por isso, certamente, estamos vendo e veremos uma concentração de esforços ainda maior por parte dos líderes do partido na campanha paulistana. A própria presidenta que, no início, disse que se manteria mais afastada já gravou participações e deve vestir a camisa do candidato de Lula. É conferir.

César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

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