Uma nova versão do Windows é coisa muito séria. Grandes mudanças, preço, instalação.

Já a Apple adota uma abordagem diferente no que se refere ao seu software OS X para Mac. A ideia é oferecer uma nova versão modesta a cada ano. A instalação consiste em uma operação de 15 minutos, que exige apenas um clique, e o preço é módico. Pelo OS X 10.8, conhecido como Mountain Lion, que foi lançado na última quarta-feira (26/07), a Apple cobra US$ 20 – e o usuário pode instalá-lo em quantos Macs tiver, sem ter que digitar números de série nem enfrentar obstáculos referentes à proteção contra cópias.

Se você é proprietário de um Mac, eis a questão: o Mountain Lion vale de fato US$ 20? (nota: eu escrevi um manual de instruções sobre o Mountain Lion para um editor independente. Não fui contratado pela Apple, nem escrevi em colaboração com ela).

É claro que só existe uma maneira precisa de responder a isso: designar um valor em dólares para cada novo recurso desse sistema operacional.

A Apple alega que há “mais de 200 novos recursos” no seu novo sistema operacional. Mas alguns deles são coisas minúsculas (busca diária de atualizações de softwares para o Safari, por exemplo) ou novidades que só servem para quem entende muito de computador (por exemplo, o “Xsan, o sistema de arquivos agregados de alta performance”). Quinze são aperfeiçoamentos para os consumidores chineses, o que é muito bom para os planos da Apple de dominação mundial, mas irrelevante para os indivíduos que não falam chinês.

O que há de novo

Sendo assim, quais dessas novidades constituem-se de fato em avanços?

O Mountain Lion continua a colocar algemas de veludo nos proprietários de iPhones, iPads e outros Macs. Por exemplo, três aplicativos para iPhone e iPad aparecem agora também no Mac: Notes (um bloco amarelo, que agora vem com formatação e gráficos), Reminders (uma lista de tarefas a serem feitas) e Game Center (que permite que você jogue com pessoas que utilizam outros Macs, iPhones e iPads, embora ainda existam poucos jogos compatíveis).

Tudo isso se sincroniza com outras máquinas da Apple por conexão wireless, devido ao cada vez mais sofisticado, e gratuito, serviço iCloud da companhia. Os novos aplicativos vêm se juntar ao Mail, ao Calendar (anteriormente chamado iCal) e ao Contacts (cujo nome anterior era Address Book), que já se sincronizam com os seus iGadgets. Mude um número no seu telefone, e essa informação é instantaneamente atualizada no seu tablet ou computador. Insira um lembrete no seu Mac, e o seu telefone celular tocará no momento, ou até mesmo no local, exato.

Tudo isso é útil e um pouco mágico – caso você possua mais do que um aparelho da Apple. Não há dúvida de que a companhia deseja fazer com que o consumidor seja um prisioneiro feliz dentro do belo jardim murado da Apple.

Mas qual o valor desses novos aplicativos sincronizados? Bem, se os aplicativos para telefone celular custarem US$ 1 ou US$ 2, e o shareware para computador US$ 20 ou US$ 30, esses novos aplicativos provavelmente valem cerca de US$ 7.

O novo Notification Center também é modelado segundo um formato de iPhone ou iPad. Ele consiste em um painel cinza escuro que desliza sobre a tela quando você passa dois dedos sobre o trackpad (ou clica em um botão na barra de menu). Nele ficam todos os avisos, mensagens e alertas feitos pelos seus programas, agregados em uma lista organizada e personalizável: os compromissos do dia, novas mensagens de e-mail, atualizações de software, atualizações para o Twitter e assim por diante.

Mountain Lion continua a colocar algemas de veludo nos proprietários de iPhones, iPads e Macs.

Tudo isso se agrega ao novo sistema de alerta do Mountain Lion, no qual cada nova bolha de alerta desliza silenciosamente para o canto da tela. É como se um mordomo tivesse entrado na ponta dos pés na sua sala com o almoço e, após ter constatado que você estava ocupado, tivesse colocado a bandeja ao lado da mesa e se retirado em silêncio.

Mas nós não gostaríamos de ser bombardeados com essas bolhas. Portanto, os novo recurso V.I.P. do aplicativo Mail permite que você determine quem serão as pessoas cujas mensagens sempre devem ser recebidas – a sua mulher ou marido, o seu patrão, o funcionário da empresa de Internet e televisão a cabo. O usuário pode personalizar o sistema de forma que as bolhas de alerta só apareçam quando essas pessoas específicas escreverem. Isso é ótimo. O Notification Center sem dúvida vale uns US$ 3.50.

E o Mac também conta agora com recurso para ditado. Ao darmos dois toques no botão Fn do teclado, podemos ditar vocalmente um texto que será transcrito.

Essa é exatamente a mesma tecnologia de reconhecimento de voz utilizada no iPhone. Portanto, não é necessário treinamento de voz nem microfone especial, mas esse recurso exige uma conexão com a Internet. E a precisão não é bem aquela que vemos nos comerciais da Apple, feitos por Martin Scorsese, sobre o Siri. Mesmo assim, o recurso de ditado é rápido e útil, valendo certamente US$ 5,75.

O novo botão Share também é muito bom. Ele aparece em toda parte – nos menus de atalho, bordas de janelas, programas como o Safari e o Preview, e outros.

O seu menu pop-up permite que o usuário transmita tudo o que estiver vendo: uma foto, um documento, um link, um vídeo, um arquivo. Você pode postar algo no Twitter, enviar isso como e-mail ou mensagem de texto, colocar uma foto ou vídeo no Flickr ou no Vimeo, mandar um arquivo via conexão wireless para um outro Mac e outras coisas mais. Tudo isso sem ter que abrir nenhum aplicativo especial nem uma página específica da Web (em uma atualização gratuita neste próximo outono norte-americano, o Facebook estará disponível também no menu Share).
Esse menu Share é um economizador de etapas inteligente que você utilizará com frequência. Ele vale sem dúvida US$ 10.

Talvez o melhor recurso para mudança de rotina seja o Power Nap, que foi elaborado para os mais recentes laptops sem disco rígido da Apple. Ele permite que o laptop atualize dados pela Internet mesmo quando o aparelho estiver fechado e hibernando.

Uma vez a cada hora, ele acorda de maneira silenciosa – sem ativar ventiladores nem luzes –, por um período suficiente para checar se há novos e-mails, baixar atualizações e fazer backups. Ao reativar mais tarde o laptop, você ficará satisfeito ao descobrir que ele encontra-se plenamente atualizado, com novos e-mails esperando e todos os programas do seu iCloud (Notes, Reminders, Calendar e assim por diante) recém-sincronizados.

A Apple alega que essa função gera um consumo extra de bateria muito pequeno. Mas, se você estiver preocupado com isso, basta determinar que o Power Nap não seja ativado, exceto quando o laptop estiver ligado à tomada. Fantástico. Isso vale US$ 11.

O Messages, o antigo programa de bate-papo iChat, foi aperfeiçoado para lidar com as iMessages, que são basicamente mensagens de texto enviadas pela Internet sem custo algum. Toda vez que você conversar com outros membros do iCloud – estejam eles usando Macs, iPhones ou iPads – a conversa aparecerá simultaneamente em todos os seus aparelhos, e nos aparelhos deles. Dê início a um bate papo no seu telefone quando estiver passeando, e você encontrará depois uma transcrição no Messages do seu Mac. Isso é meio esquisito e confuso, mas vale US$ 3,35.

O recurso AirPlay exige um Apple TV (US$ 100), mas ele permite que você faça um verdadeiro milagre: com um clique, você pode enviar tudo o que estiver na tela do seu Mac – som e imagem – para a sua televisão. Via conexão sem fio.

O AirPlay, que já vem incluído nos iPhones e iPads, é ainda mais útil no Mac. O usuário pode enviar apresentações de slide para a televisão. Ou fazer apresentações em uma sala de aula. Ou reproduzir vídeos online, incluindo serviços como o Hulu, que não estão disponíveis apenas para a Apple TV.

E para trabalhos de PowerPoint, você pode contar com um diminuta Apple TV em vez de ter que carregar um projetor de US$ 1.500. Um grande recurso, que vale US$ 12,87 – e provavelmente ainda mais para os usuários frequentes de PowerPoint.

Pontos negativos

Entretanto, nem tudo se constitui em avanço. A Apple tentou refinar o desnorteante recurso AutoSave, lançado no ano passado. Ela reintroduziu as funções “Save As” e “Revert to Save”. Infelizmente o resultado é quase mais confuso do que antes. E o pior é que apenas uns poucos programas incorporam o sistema. Você acaba sendo obrigado a aprender duas maneiras de salvar arquivos. Subtraia US$ 3,25.

A iniciativa contínua da Apple de levar os gestos multitoques do iPad para o trackpad do Mac não foi também muito convincente. Você desliza três dedos verticalmente para cima para abrir o aplicativo Mission Control, abre quatro dedos sobre a tela para ver desktop, desliza quatro dedos para o lado para mudar a tela inteira de um aplicativo para outro, etc…. Será que é possível lembrar-se disso tudo? Vou deduzir US$ 1,77 por essa tolice bem intencionada.

Tenham em mente, também, que o Mountain Lion só está disponível como download. Desta vez a Apple não está sequer vendendo o software em um flash drive USB como método de instalação alternativo. Este é um grande problema para pessoas que não possuem Internet de alta velocidade (sim, essas pessoas ainda existem). Vou subtrair US$ 1,20.

Finalmente, eu me deparei com o conjunto usual de pequenos bugs que são sempre encontrados em um primeiro lançamento. A Apple confirmou a existência desses bugs e informou que eles serão exterminados em breve. Isso merece uma multa de 35 centavos.

Portanto, segundo a minha conta altamente científica, o Mountain Lion custa US$ 20, mas ele traz melhorias que valem US$ 46,90. E isso sem sequer levar em consideração os outros 170 recursos: o aplicativo Preview (que agora permite que você marque opções e preencha espaços vazios em formato PDF), o Gatekeeper (que bloqueia programas maliciosos), novos shows de slide que atuam como protetores de tela, a unificação das barras de endereço e de busca no Safari, as barras de deslocamento pela tela que aumentam de espessura quando o cursor se aproxima delas, e outros mais.

Portanto, de forma geral o Mountain Lion é uma atualização interessante e inteligente. Todos os 200 novos recursos? Na verdade não. Mas os dez que você usará todos os dias? Por US$ 20? Sim, sem dúvida.

Fonte: Uol Tecnologia

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