O corpo do economista Antonio Barros de Castro será enterrado nesta segunda-feira (22), no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona Sul da cidade. O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) morreu na manhã de domingo (21), soterrado no desabamento da laje do escritório da casa dele, no Rio de Janeiro.

Para o atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, “o professor Barros de Castro foi capaz de conciliar uma brilhante carreira acadêmica, tornando-se uma referência no pensamento econômico brasileiro, com o enfrentamento de grandes desafios como homem público. Ele deixa para todos nós um legado de compromisso com o desenvolvimento do Brasil e, sem duvida, fará muita falta ao nosso país”.

Ao comparecer nesta segunda-feira (22), ao velório do corpo do amigo pessoal, na capela do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Praia Vermelha, da qual o economista era professor emérito, João Paulo dos Reis Velloso, de 80 anos, definiu Barros de Castro como “um dos maiores economistas que o Brasil já teve”.

Antonio Barros de Castro participou de todas as 23 edições do Fórum Nacional, que Velloso preside. “Ele sabia pensar o Brasil, que rumos deve tomar o país. Não é só a questão de ver um aspecto ou outro. É ter essa visão estratégica que nós, no fórum, sempre procuramos ter”.

Segundo Velloso, o pensamento de Barros de Castro era criativo e original. “Era um angustiado perfeccionista”. Ele revelou que Barros de Castro era capaz de refazer um trabalho integralmente se surgisse um fato novo que alterasse a visão dele sobre o assunto.

O Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), que promove o Fórum Nacional, está organizando uma homenagem a Barros de Castro, que ocorrerá no Fórum Especial, em setembro, com a publicação de um livro com os principais trabalhos do economista feitos nos últimos 20 anos.

“Eu o colocaria na linha sucessória de Celso Furtado [ex-ministro do Planejamento do Brasil no governo João Goulart, reconhecido mundialmente como um dos principais economistas e pensadores sociais latinoamericanos]. Era um homem de produção e difusão do conhecimento estruturalista, com uma experiência concreta na execução de políticas públicas, especialmente quando atuou no BNDES”. Foi com essa comparação que o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, definiu Barros de Castro. “Ele tinha a capacidade de entender o Brasil para além da economia”.

Em nota, o diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), Luiz Guilherme Schymura de Oliveira, disse que a morte de Antonio Barros de Castro representa uma “enorme perda para o pensamento econômico brasileiro”. E prossegue: “O professor Barros de Castro caracterizava-se por apresentar grande independência e originalidade em sua visão de mundo. Sua participação no debate econômico abrangia campos como os da história econômica e da economia industrial. Suas análises cobriam desde avaliações do 2º PND [Plano Nacional de Desenvolvimento] do período militar na economia brasileira nos anos 80, até impactos das descobertas do pré-sal no futuro de nosso país”.

Schymura destacou que, mais recentemente, Castro vinha se dedicando a pesquisar os desafios que a economia da China impõe ao Brasil. Ele “estudava os ajustamentos necessários da economia brasileira ao desafio chinês, considerando suas oportunidades e as dificuldades, principalmente para a sobrevivência da indústria, que se apresentavam à economia brasileira. Sem dúvida, deixará um grande vazio na profissão”.

Para o diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Frederico Leão Rocha, Barros de Castro formava com os econmistas e acadêmicos Carlos Lessa e Maria da Conceição Tavares o “nosso trio de professores que trouxe para a escola o pensamento cepalino [baseado no viés desenvolvimentista da Comissão Econômica para América Latina e Caribe – Cepal, uma das cinco comissões econômicas criadas pelas Nações Unidas três anos após o fim da 2ª Guerra Mundial]”.

Na análise de Leão Rocha, embora tenha chegado à presidência do BNDES, Barros de Castro notabilizou-se como acadêmico. Considerou que três dos livros dele foram essenciais para a formação de diferentes gerações de economistas. Um deles, escrito em parceria com Lessa, de introdução à economia, acabou difundindo o pensamento da Cepal em diferentes escolas de economia do mundo. Ele considera, entretanto, que a melhor obra de Barros de Castro é Economia em Marcha Fechada, no qual introduziu teorias inovadoras a respeito do 2º PND do governo militar “que influenciaram muito quem estava na universidade na década de 1980, inclusive eu. Ele nunca parou de pensar e olhar para a frente. É fundamental para a difusão do pensamento estruralista nas escolas de economia do Brasil”.

Fonte: Agência Brasil

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