Apesar do apoio da presidenta Dilma Rousseff e do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) ao ministro da Agricultura, Wagner Rossi, a Controladoria-Geral da União (CGU) recolheu ontem computadores do ministério e abriu uma nova investigação para apurar as denúncias de tráfico de influência e corrupção na Pasta.
Com as declarações de apoio, apesar da devassa nos computadores da Agricultura realizada por um órgão afinado com o Planalto, Dilma pretende estancar a crise, preservando o PMDB de ações mais drásticas como a imposta ao PR, partido menor que fazia parte do condomínio de poder até virar alvo da “faxina” ordenada pela presidenta.
Carvalho disse que conversou ontem com Rossi e relatou que o ministro da Agricultura está “sereno” e “tranquilo”. “Ele é ministro do governo da presidenta Dilma Rousseff e assim vai seguir enquanto ele avaliar que há condições para seguir”, afirmou.
O presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), acredita que nada será encontrado que incrimine Wagner Rossi. “Foi o próprio ministro que pediu a atuação da CGU. Portanto, esses computadores devem ter sido recolhidos a pedido dele”, disse. “Portanto, o ministro está tranquilo. Todos os que tinham alguma coisa a temer já foram afastados”, disse Raupp. No caso da Agricultura, o único afastado foi o ex-secretário-executivo Milton Ortolan, que nem esperou as investigações para pedir demissão.
De seu lado, o ministro Jorge Hage (CGU) disse que conversou com Rossi, para informá-lo das novas ações e do recolhimento dos computadores, para análise sobre licitações, convênios e contratos. Procedimento semelhante foi adotado após as denúncias de irregularidades envolvendo o Ministério dos Transportes, que levaram à queda de Alfredo Nascimento e à demissão de mais de 27 servidores do setor.
De acordo com Jorge Hage, o ministro Rossi colocou-se à disposição para fornecer todas as facilidades do trabalho de auditoria. Hage disse que não foi recolhido nenhum material de Rossi. “Não há nenhuma acusação que pese contra o ministro pessoalmente”, afirmou ele.
A Comissão de Ética Pública reuniu-se ontem e decidiu não investigar o ministro Wagner Rossi. Segundo o presidente da comissão, Sepúlveda Pertence, não há nada sobre Rossi nas notícias divulgadas no final de semana.
Em compensação, a Comissão de Ética decidiu abrir investigação sobre as atividades de Milton Ortolan, que se demitiu no sábado da Secretaria-Geral do Ministério da Agricultura, depois da notícia da revista Veja de envolvimento dele com um lobista.
Também foram abertas investigações para saber se Luiz Antonio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit, não vai cumprir a quarentena exigida para os funcionários públicos. O ex-servidor da Conab Oscar Jucá Neto foi advertido publicamente por não ter entregue a Declaração Confidencial de Informação (DCI), uma espécie de declaração de bens exigida dos servidores públicos.
Ministro desqualifica as acusações e abre sindicância
O ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB), negou ontem, durante entrevista coletiva, qualquer envolvimento nas denúncias de corrupção. Mas admitiu que o fato de as diretorias da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) serem ocupadas por apadrinhados políticos de diferentes partidos é um foco de tensão.
“Há sempre um concorrência natural por espaço. A Conab tem diretores de vários partidos e isso tem gerado problemas. Hoje, sinto que há uma certa dificuldade de entendimento entre os diretores”, argumentou Rossi. As diretorias da Conab são ocupadas por indicados políticos do PMDB, PTB e PT. Ao rebater as denúncias de corrupção na pasta, Rossi reconheceu que “talvez tivéssemos faltado com a atenção em algumas coisas”. “Eu não consigo cuidar de tudo”, justificou.
Segundo o ministro as disputas entre grupos rivais dentro da Agricultura e da Conab, somadas à “mentalidade corporativista de algumas pessoas”, podem ter desencadeado as denúncias contra a pasta. “Quem conhece a administração pública sabe que às vezes você muda a equipe, e a equipe anterior e a equipe atual se hostilizam, por baixo do pano. Isso acontece”, disse Rossi.
Indicado para o cargo pelo vice-presidente da República, Michel Temer, o ministro da Agricultura garantiu que a “presidente Dilma tem dado todos os motivos para que eu me sinta firme e confortável e que meu trabalho está sendo avaliado adequadamente”. Até ontem à noite, Rossi não havia se encontrado nem conversado com a presidente Dilma Rousseff. Seu contato tinha sido apenas com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
Para se defender, Rossi descredenciou a matéria da revista Veja, ao dizer que “deram voz a algumas pessoas que deveriam ter sido melhor avaliadas”. Munido de papeis os quais afirmava serem documentos, Rossi rebateu as denúncias e anunciou a criação de comissão de sindicância para apurar as supostas irregularidades na pasta.
Oposição quer levar envolvidos ao Senado
Brasília (AE) – O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), protocolou ontem requerimento convidando o ex-secretário-executivo do Ministério da Agricultura Milton Ortolan, o ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Oscar Jucá Neto e o lobista Júlio Fróes para prestar depoimento sobre as denúncias no ministério da Agricultura. Os requerimentos foram apresentados na comissão de Agricultura, onde o ministro Wagner Rossi é esperado amanhã.
Ortolan pediu demissão no sábado após reportagem da revista Veja mostrar seu envolvimento com Júlio Fróes. O lobista teria sala privativa no ministério, teria atuado em processos de licitação da pasta e pago propina a servidores. Oscar Jucá Neto, por sua vez, foi demitido da Conab após realizar um pagamento irregular e saiu atirando contra Rossi afirmando haver um esquema de corrupção no ministério para beneficiar o PMDB e o PTB.
Para Álvaro Dias, a presença do trio na comissão ajudaria o Senado na investigação das denúncias. Ele defendeu que Rossi deixe o cargo. “Em um governo sério, o afastamento é a primeira medida que se toma em casos como esses. A demissão aconteceria se tivesse alguém realmente interessado em fazer alguma limpeza”
PPS pede apurações do Ministério Público
Brasília (AE) – O PPS pediu ontem que o Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF) investigue as denúncias de corrupção no Ministério da Agricultura. A representação solicita a apuração das movimentações do lobista Júlio Fróes, de funcionários da Comissão de Licitações e de Milton Ortolan, que deixou a secretaria-executiva da pasta no sábado.
O presidente do partido, Roberto Freire, afirma que o caminho escolhido visa dar mais celeridade à apuração. “Estamos pedindo para o Ministério Público do DF investigar porque quando entramos (com pedido de investigação) na Procuradoria-Geral da República, o pedido entra e para”. O PPS vai solicitar também que o ministro Wagner Rossi retorne à Câmara dos Deputados para falar sobre as novas denúncias. Freire afirmou ter virado “rotina” haver denúncias contra o governo Dilma Rousseff. Ele ironizou o rótulo de “faxina” usado para as demissões no ministério dos Transportes e disse que isso não foi aplicado ainda em outras áreas. “Não acredito em quem vem com vassoura, porque teria que passar a vassoura em cima do Lula”, ironizou.