Apesar do apoio da presidenta Dilma Rousseff e do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) ao ministro da Agricultura, Wagner Rossi, a Controladoria-Geral da União (CGU) recolheu ontem computadores do ministério e abriu uma nova investigação para apurar as denúncias de tráfico de influência e corrupção na Pasta.

andré dusek/aeDurante entrevista sobre as denúncias publicadas na imprensa, Wagner Rossi afirmou que não escolheu o substituto de Milton Ortolan. Na semana passada, uma comissão disciplinar já havia sido instaurada para apurar as responsabilidades administrativas para apurar as notícias de pagamento indevido da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab) a uma empresa goiana da área de silos. O responsável pela liberação do pagamento foi Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Demitido, Jucá Neto acusou o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, de corrupção.A presidenta Dilma Rousseff, que havia defendido Rossi no domingo, por intermédio de uma declaração da Secretaria de Imprensa, voltou a dizer ontem que confia em seu ministro da Agricultura. “Não há razão para ter qualquer questão em relação ao ministro Wagner Rossi”, disse Dilma a jornalistas, logo depois de uma recepção ao primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper.E o ministro Gilberto Carvalho, que tentou manter Luiz Antonio Pagot à frente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), e não conseguiu, reiterou o apoio da presidenta Dilma ao ministro da Agricultura. Ele afastou a possibilidade de demissão do ministro do PMDB, que é apadrinhado pelo vice-presidente Michel Temer.

Com as declarações de apoio, apesar da devassa nos computadores da Agricultura realizada por um órgão afinado com o Planalto, Dilma pretende estancar a crise, preservando o PMDB de ações mais drásticas como a imposta ao PR, partido menor que fazia parte do condomínio de poder até virar alvo da “faxina” ordenada pela presidenta.

Carvalho disse que conversou ontem com Rossi e relatou que o ministro da Agricultura está “sereno” e “tranquilo”. “Ele é ministro do governo da presidenta Dilma Rousseff e assim vai seguir enquanto ele avaliar que há condições para seguir”, afirmou.

O presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), acredita que nada será encontrado que incrimine Wagner Rossi. “Foi o próprio ministro que pediu a atuação da CGU. Portanto, esses computadores devem ter sido recolhidos a pedido dele”, disse. “Portanto, o ministro está tranquilo. Todos os que tinham alguma coisa a temer já foram afastados”, disse Raupp. No caso da Agricultura, o único afastado foi o ex-secretário-executivo Milton Ortolan, que nem esperou as investigações para pedir demissão.

De seu lado, o ministro Jorge Hage (CGU) disse que conversou com Rossi, para informá-lo das novas ações e do recolhimento dos computadores, para análise sobre licitações, convênios e contratos. Procedimento semelhante foi adotado após as denúncias de irregularidades envolvendo o Ministério dos Transportes, que levaram à queda de Alfredo Nascimento e à demissão de mais de 27 servidores do setor.

De acordo com Jorge Hage, o ministro Rossi colocou-se à disposição para fornecer todas as facilidades do trabalho de auditoria. Hage disse que não foi recolhido nenhum material de Rossi. “Não há nenhuma acusação que pese contra o ministro pessoalmente”, afirmou ele.

A Comissão de Ética Pública reuniu-se ontem e decidiu não investigar o ministro Wagner Rossi. Segundo o presidente da comissão, Sepúlveda Pertence, não há nada sobre Rossi nas notícias divulgadas no final de semana.

Em compensação, a Comissão de Ética decidiu abrir investigação sobre as atividades de Milton Ortolan, que se demitiu no sábado da Secretaria-Geral do Ministério da Agricultura, depois da notícia da revista Veja de envolvimento dele com um lobista.

Também foram abertas investigações para saber se Luiz Antonio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit, não vai cumprir a quarentena exigida para os funcionários públicos. O ex-servidor da Conab Oscar Jucá Neto foi advertido publicamente por não ter entregue a Declaração Confidencial de Informação (DCI), uma espécie de declaração de bens exigida dos servidores públicos.

Ministro desqualifica as  acusações e abre sindicância

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB), negou ontem, durante entrevista coletiva,  qualquer envolvimento nas denúncias de corrupção. Mas admitiu que o fato de as diretorias da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) serem ocupadas por apadrinhados políticos de diferentes partidos é um foco de tensão.

“Há sempre um concorrência natural por espaço. A Conab tem diretores de vários partidos e isso tem gerado problemas. Hoje, sinto que há uma certa dificuldade de entendimento entre os diretores”, argumentou Rossi. As diretorias da Conab são ocupadas por indicados políticos do PMDB, PTB e PT. Ao rebater as denúncias de corrupção na pasta, Rossi reconheceu que “talvez tivéssemos faltado com a atenção em algumas coisas”. “Eu não consigo cuidar de tudo”, justificou.

Segundo o ministro as disputas entre grupos rivais dentro da Agricultura e da Conab, somadas à “mentalidade corporativista de algumas pessoas”, podem ter desencadeado as denúncias contra a pasta. “Quem conhece a administração pública sabe que às vezes você muda a equipe, e a equipe anterior e a equipe atual se hostilizam, por baixo do pano. Isso acontece”, disse Rossi.

Indicado para o cargo pelo vice-presidente da República, Michel Temer, o ministro da Agricultura garantiu que a “presidente Dilma tem dado todos os motivos para que eu me sinta firme e confortável e que meu trabalho está sendo avaliado adequadamente”. Até ontem à noite, Rossi não havia se encontrado nem conversado com a presidente Dilma Rousseff. Seu contato tinha sido apenas com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

Para se defender, Rossi descredenciou a matéria da revista Veja, ao dizer que “deram voz a algumas pessoas que deveriam ter sido melhor avaliadas”. Munido de papeis os quais afirmava serem documentos, Rossi rebateu as denúncias e anunciou a criação de comissão de sindicância para apurar as supostas irregularidades na pasta.

Oposição quer levar envolvidos ao Senado

Brasília (AE) – O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), protocolou ontem requerimento convidando o ex-secretário-executivo do Ministério da Agricultura Milton Ortolan, o ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Oscar Jucá Neto e o lobista Júlio Fróes para prestar depoimento sobre as denúncias no ministério da Agricultura. Os requerimentos foram apresentados na comissão de Agricultura, onde o ministro Wagner Rossi é esperado amanhã.

Ortolan pediu demissão no sábado após reportagem da revista Veja mostrar seu envolvimento com Júlio Fróes. O lobista teria sala privativa no ministério, teria atuado em processos de licitação da pasta e pago propina a servidores. Oscar Jucá Neto, por sua vez, foi demitido da Conab após realizar um pagamento irregular e saiu atirando contra Rossi afirmando haver um esquema de corrupção no ministério para beneficiar o PMDB e o PTB.

Para Álvaro Dias, a presença do trio na comissão ajudaria o Senado na investigação das denúncias. Ele defendeu que Rossi deixe o cargo. “Em um governo sério, o afastamento é a primeira medida que se toma em casos como esses. A demissão aconteceria se tivesse alguém realmente interessado em fazer alguma limpeza”

PPS pede apurações do Ministério Público

Brasília (AE) – O PPS pediu ontem que o Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF) investigue as denúncias de corrupção no Ministério da Agricultura. A representação solicita a apuração das movimentações do lobista Júlio Fróes, de funcionários da Comissão de Licitações e de Milton Ortolan, que deixou a secretaria-executiva da pasta no sábado.

O presidente do partido, Roberto Freire, afirma que o caminho escolhido visa dar mais celeridade à apuração. “Estamos pedindo para o Ministério Público do DF investigar porque quando entramos (com pedido de investigação) na Procuradoria-Geral da República, o pedido entra e para”. O PPS vai solicitar também que o ministro Wagner Rossi retorne à Câmara dos Deputados para falar sobre as novas denúncias. Freire afirmou ter virado “rotina” haver denúncias contra o governo Dilma Rousseff. Ele ironizou o rótulo de “faxina” usado para as demissões no ministério dos Transportes e disse que isso não foi aplicado ainda em outras áreas. “Não acredito em quem vem com vassoura, porque teria que passar a vassoura em cima do Lula”, ironizou.

Fonte: G1

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